Congressista luso-americano admite "problema de mensagem" dos democratas
25 de nov. de 2024, 12:03
— Lusa/AO Online
Nascido
na Madalena, na ilha do Pico, António Cabral mudou-se para os Estados
Unidos aos 14 anos, com o seu envolvimento no mundo da política
norte-americana a dar-se quando ainda frequentava a Universidade.Hoje,
perto de completar 70 anos e já com três décadas no serviço público
como membro da Câmara dos Representantes de Massachusetts, o democrata
acaba de ser reeleito e disse à Lusa que tem entre as suas prioridades
para este novo mandato questões ligadas à Educação e aos Transportes na
região.Apesar da sua vitória, o partido de
Cabral não só falhou em eleger Kamala Harris para Presidente, como
também perdeu o Congresso para os republicanos.Questionado
pela Lusa sobre os erros do seu partido, António Cabral aponta "um
problema de mensagem", especialmente junto da classe média trabalhadora,
e que se arrasta há anos."Acho que o que
falhou foi não comunicar ou não apresentar a nível geral aquilo que é
importante para a classe trabalhadora e para a classe média. Foi um
problema de comunicação à partida, um problema de mensagem", disse, em
entrevista à Lusa. "Ao longo da sua
história, o Partido Democrata tem sido não só o partido dos direitos
humanos e direitos civis, mas também o partido que sempre defendeu os
direitos e aquilo que era importante para para a classe trabalhadora e a
classe média. Mas essa mensagem não chegou", frisou.Para
Cabral - o único representante eleito de ascendência portuguesa nascido
em Portugal - o partido deve agora passar por um período de reflexão
para analisar o que falhou e reestruturar a sua mensagem para conseguir
"novamente a confiança dos eleitores e da classe trabalhadora"."Só assim poderemos, no futuro próximo, ganhar eleições a nível nacional e controlar o Congresso dos Estados Unidos", advogou.Apesar
de admitir um problema de comunicação no partido, "não foi um choque"
quando percebeu durante a madrugada de 06 de novembro que os democratas
iriam perder a eleição, embora mantivesse esperança numa reviravolta.Porém,
acredita que o domínio republicano será temporário e que os efeitos de
uma nova administração de Donald Trump terão a extensão de apenas dois
anos, depositando a sua esperança nas eleições intercalares de 2026, ano
em que confia que o Partido Democrata conseguirá recuperar o Congresso e
limitar a segunda metade do Governo de Trump."Eu
divido isto em etapas de dois anos. Nos próximos dois anos talvez
iremos apreciar e ver aquilo que Donald Trump prometeu durante a
campanha. (...) Mas, daqui a dois anos, haverá eleições intercalares e
acho que, conforme o resultado dessas eleições, a sua Presidência também
pode mudar. Por isso, os últimos dois anos poderão ser muito diferentes
dos dois últimos", defendeu o legislador."Eu tenho
esperança que os últimos dois anos sejam totalmente diferentes se os
democratas conseguirem recuperar o congresso", acrescentou.Em
reconhecimento pelo seu trabalho na promoção das relações entre
Portugal e os EUA, António Cabral já foi condecorado com o título de
Comendador da Ordem Infante D. Henrique.Sendo
ele próprio um imigrante envolvido numa comunidade com forte presença
portuguesa, Cabral admite haver "alguma ansiedade" em torno das
promessas feitas por Donald Trump de deportação em larga escala de
imigrantes indocumentados."Aqui fala-se do
assunto, mas não me têm procurado para abordar esse tema. A nossa
comunidade é um bocado pacata, mas na nossa região também temos imensas
pessoas, principalmente jovens, que vieram indocumentados. A maioria
geralmente vem dos Açores, mas temos do continente também", explicou."Trump
tem dito desde o princípio que o objetivo é identificar todos aqueles
que entraram não documentados e deportá-los a todos. Eu acho que seria
caótico e complicadíssimo para que isso pudesse acontecer. Estamos a
falar em milhões e milhões de pessoas. Acho que faz muito mais sentido
começarem por aqueles que cometeram algum crime nos EUA ou no país de
origem", observou o representante democrata.Apesar
da ala mais radical do Partido Republicano ter usado a campanha
presidencial para rotular os imigrantes que entraram pela fronteira sul
do país como "criminosos", Cabral não deixa de notar que o próprio
Donald Trump tornou-se este ano um criminoso condenado."Falam
de deportar os condenados, mas o próprio Donald Trump foi considerado
culpado de 34 acusações criminais em Nova Iorque. Se fosse um imigrante
não documentado era o primeiro a ser deportado", assinalou.