Configuração do novo anel de cabos submarinos gera contestação
5 de abr. de 2023, 17:17
— Lusa
“A escolha da
configuração teve uma preocupação única de garantir uma total
redundância à Região Autónoma dos Açores e de interligação com a atual e
futura rede interilhas, ao contrário da atual configuração, a qual está
totalmente dependente da ilha de São Miguel”, justifica o diretor-geral
da IP Telecom, numa carta enviada ao parlamento açoriano.O
ofício, a que a Lusa teve hoje acesso, surge em resposta a uma petição
entregue na Assembleia Legislativa dos Açores, cujo primeiro subscritor é
Mota Vieira, engenheiro de comunicações, que defende a realização de um
estudo para determinar a que ilhas devem ficar ligados os cabos
submarinos que vêm do Continente e da Madeira.“O
cabo principal, vindo do Continente, deve ficar ligado à ilha de São
Miguel, que é a maior ilha da região”, defendem os assinantes da
petição, acrescentando que a ligação do cabo secundário deva ser
estudada, admitindo que apenas essa possa ficar instalada noutra ilha da
região.O projeto do futuro cabo de fibra
ótica, designado por Atlantic CAM, entretanto lançado a concurso, prevê a
configuração de um “anel puro” entre o Continente os Açores e a
Madeira, com duas estações de amarração em cada vértice: Carcavelos e
Sines (no Continente), Terceira e São Miguel (nos Açores), e Funchal e
Machico (na Madeira).“A configuração
definida permitirá, sempre que uma ilha sofra algum tipo de catástrofe,
vendo-se impedida de prestar o serviço de comunicações com as demais
ilhas, por via de uma configuração de anel puro, possam subsistir
interligações” com o restante arquipélago, pode ler-se no referido
ofício da IP Telecom.A empresa adianta
ainda que o novo cabo de fibra ótica terá "100 vezes mais" a capacidade
do atual anel, que está a terminar o seu período de vida útil,
garantindo, por isso, que a ligação Continente/Terceira não irá provocar
atrasos (latências) nas comunicações entre São Miguel (a maior ilha dos
Açores) e o Continente.“As latências
entre a ilha de São Miguel e o Continente serão da mesma ordem de
grandeza das existentes no atual anel CAM”, refere o diretor–geral da IP
Telecom, lembrando que o futuro cabo de fibra ótica terá uma distância
entre o continente português e a ilha de São Miguel, “inferior à atual,
em cerca de 50 quilómetros”.Opinião
contrária têm os subscritores da petição, que consideram que a maior
economia dos Açores, situada na ilha de São Miguel, será “fortemente
penalizada”, se o cabo principal de fibra ótica entre o Continente e os
Açores, ficar ligado à ilha Terceira.“Esta
configuração irá trazer consequências negativas para a principal
economia dos Açores”, alertou Mota Vieira, durante a audição
parlamentar, adiantando que uma empresa tecnológica que pretenda
instalar-se nos Açores, não vai querer vir para São Miguel, depois de
saber que não há ligações da fibra ótica diretas com o Continente.A
nova configuração dos cabos submarinos agrada, no entanto, a João
Cadete de Matos, presidente da ANACOM (Autoridade Nacional de
Comunicações), que também foi ouvido pela comissão parlamentar de
Economia, considerando que a ilha de São Miguel “não sairá” prejudicada
com o novo desenho”.“Não foi a ANACOM que
definiu esta nova configuração, mas parece-nos que a solução corresponde
ao que era exigido”, insistiu João Cadete de Matos, recordando que a
uma condição imposta pela ANACOM é que o futuro anel tivesse cabos de
amarração em ilhas diferentes, situação que está contemplada no novo
desenho.Também o subsecretário regional da
Presidência, Pedro Faria e Castro, igualmente ouvido pelos deputados,
concorda com a solução proposta para o novo cabo de fibra ótica entre o
Continente e os Açores, garantindo, porém, que o novo desenho é
responsabilidade da República.“Temos aqui
uma solução que nos foi proposta pelo Governo da República e sobre a
qual a Região colocou, à partida, duas condições: que existissem dois
pontos de amarração e que esses pontos fossem em ilhas diferentes, de
forma a que fosse assegurada a redundância”, explicou o governante,
acrescentando que essas exigências estão contempladas no projeto.Além
de maior capacidade de comunicações e de total redundância do sistema, o
novo anel de fibra ótica incluir também equipamentos para deteção
sísmica e climática, permitindo criar um novo centro de investigação de
dados nos Açores.