Conferência Episcopal lamenta aprovação do texto final na especialidade
Eutanásia
7 de dez. de 2022, 14:32
— Lusa/AO Online
“É
de lamentar que, numa altura em que as carências do sistema de saúde
estão muito longe de ser superadas, possamos correr o risco de
apresentar a proposta de recurso à eutanásia como solução mais rápida e
menos onerosa”, reagiu a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).O
texto final sobre a despenalização da morte medicamente assistida foi aprovado na especialidade, com votos contra de Chega e PCP, e
abstenção do PSD.Lamentando o momento em
que a discussão acontece, num “contexto de guerra, de recessão
socioeconómica e de sinais de um Serviço Nacional de Saúde em grande
fragilidade”, a CEP considerou que se trata de uma grave ameaça para a
humanidade que viola um princípio ético fundamental.“A
resposta de uma sociedade adulta e esclarecida ao sofrimento, à dor e
ao desespero não é abandonar quem sofre e aqueles que os acompanham, mas
confortar, cuidar e amar para restaurar a esperança e dignificar a vida
humana até ao seu fim natural”, defende a CEP, sublinhando que os
cuidados paliativos continuam a não estar acessíveis a todas as pessoas.A
Conferência Episcopal afirma ainda que o diploma, que deverá estar em
votação final global na sexta-feira, não assegura “o justo equilíbrio
entre a proteção da vida e o respeito do doente” e que, desta forma, o
Estado passa uma mensagem perigosa aos doentes que “em situação de
desespero, podem ser levados a desistir de viver”.O
texto final estabelece que a "morte medicamente assistida não punível"
ocorre "por decisão da própria pessoa, maior, cuja vontade seja atual e
reiterada, séria, livre e esclarecida, em situação de sofrimento de
grande intensidade, com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença
grave e incurável, quando praticada ou ajudada por profissionais de
saúde".Desta vez, em comparação ao último decreto, o texto de substituição deixa cair a exigência de "doença fatal".Para
a CEP, ao não limitar a morte medicamente assistida a situações de
doença terminal, o parlamento derruba uma barreira que torna “expectável
que se caminhe no sentido do alargamento das situações em que se pode
pedir a morte assistida, com um verdadeiro impacto social”.A
instituição diz manter a esperança de que o diploma ainda venha a ser
alterado e apela a famílias e profissionais de saúde para que “rejeitem
as possibilidades abertas pela legalização da eutanásia e do suicídio
assistido e nunca deixem de testemunhar que a vida humana é sempre um
dom precioso”.O texto final, que tem por
base os projetos de lei apresentados por PS, IL, BE e PAN, estabelece
agora também um prazo mínimo de dois meses desde o início do
procedimento para a sua concretização, sendo igualmente obrigatória a
disponibilização de acompanhamento psicológico.Na
anterior legislatura, a despenalização, em certas condições, da morte
medicamente assistida, alterando o Código Penal, reuniu maioria alargada
no parlamento, mas foi alvo de dois vetos do Presidente da República:
uma primeira vez após o chumbo do Tribunal Constitucional, na sequência
de um pedido de fiscalização de Marcelo Rebelo de Sousa.Numa
segunda vez, a 26 de novembro, o Presidente rejeitou o diploma através
de um veto político realçando que ao longo do novo texto eram
utilizadas expressões diferentes na definição do tipo de doenças
exigidas e defendendo que o legislador tinha de optar entre "doença só
grave", "doença grave e incurável" e "doença incurável e fatal".