Autor: Lusa
De acordo com o Relatório de Prospetiva da estrutura do ISCTE a que a Lusa teve acesso, os autores estabelecem três cenários prospetivos em que os votos se possam alinhar e existem três nomes que são indicados em duas dessas grelhas: os cardeais Jean-Marc Aveline (Marselha), Matteo Maria Zuppi (Bolonha) e Pietro Parolin (secretário de Estado).
Destes três, “ao introduzir uma simulação de votação estratégica com os candidatos presentes nos três cenários e uma majoração estratégica para candidatos surpresa, o resultado prospetivo apurado foi a eleição de Jean-Marc Aveline”, que é apresentado como o candidato da Proximidade e Diálogo.
Os autores, Gustavo Cardoso e Carlos Picassinos, definem três cenários, que definirão as prioridades de voto dos cardeais eleitores, a “continuidade”, “surpresa” e aquilo que designam como a “força dos fracos”, uma combinação de análise ao “alinhamento com as prioridades emergentes da Igreja”, a “representação de periferias”, uma “influência inesperada ou perfil em ascensão”, “liderança em contextos de crise ou transição cultural” e “capacidade de diálogo entre reformistas e conservadores”.
E é nesta categoria de “força dos fracos” que os autores colocam o português Tolentino de Mendonça, o prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, a par de Jean-Marc Aveline e Matteo Maria Zuppi.
A análise combina “critérios qualitativos e dados simulados do conclave para identificar caminhos plausíveis para os resultados da eleição papal”, procurando “captar a complexidade de um processo moldado por expectativas teológicas, dinâmicas globais da Igreja e realinhamentos de fações dentro do Colégio de Cardeais”.
No cenário da “continuidade” com o papado anterior de Francisco, os autores colocam Matteo Maria Zuppi, Pietro Parolin e o filipino Luís António Tagle, atual prefeito do Dicastério para a Evangelização.
O cenário da “surpresa” são incluídos Jean-Marc Aveline, Pietro Parolin, e Fridolin Ambongo Besungu (presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar).
Segundo o Relatório de Prospetiva MediaLab, denominado “Cenários para a Sucessão do Papa Francisco”, a eleição do português Tolentino de Mendonça só poderia suceder num cenário de “rutura”, em que “teriam que ocorrer um conjunto de ações e eventos, tanto diretamente geríveis por si e seus potenciais apoiantes, como autónomas da sua decisão”.
Por isso, “uma potencial vitória do cardeal José Tolentino de Mendonça necessitaria de uma reconfiguração da sua imagem perante os seus pares, de poeta a profeta, como uma voz profética para um mundo ferido, um Papa que compreendesse a alma da humanidade em crise e não só das instituições da Igreja”, referem os autores.
Além disso, “o cardeal José Tolentino de Mendonça necessitaria igualmente de formar alianças estratégicas pré-conclave unindo blocos diversos”, em particular “os moderados curiais que não pretendem ruturas, os cardeais do sul global que valorizam a perspetiva lusófona e os europeus que apreciam a sua inteligência e ausência de radicalismo”.
E depois, “na dimensão externa ao controle dos ‘papabili’ teria de ocorrer no próximo mês uma crise internacional envolvendo religião e cultura, bem como um conjunto de escândalos ou impasses institucionais na Cúria” e no processo eleitoral, “teria de ocorrer uma viragem decisiva nas expectativas face às votações em Matteo Zuppi e Jean-Marc Aveline”.
Só assim seria possível que “um grupo de cardeais latino-americanos alavancasse Tolentino como um unificador silencioso”, vaticinam os autores, analisando os perfis dos eleitores.
“Para uma potencial eleição, o Cardeal Tolentino de Mendonça necessitaria de cerca de 20 a 25 votos de um bloco lusófono e cultural curial, junto a 10 a 15 votos de cardeais da América Latina cansados de polarização, mais 10 votos da Europa equidistante e, por fim, o apoio dos cardeais da África e Ásia apoiando um candidato que escuta e tem perfil global”, pode ler-se no relatório.
Perante estas dificuldades, os autores admitem que, “embora nada seja impossível, a eleição de um cardeal português como próximo Papa afigura-se como particularmente difícil e pouco provável à data deste relatório”.
Contudo, “a partir do momento que se entrar na sala do conclave e este tiver início todas as considerações anteriores podem desvanecer-se”, escrevem.
O Conclave tem início na quarta-feira, dia 07 de maio e caberá aos 133 cardeais eleitores, com menos de 80 anos, a responsabilidade de escolher o sucessor de Francisco.
Todos os dias serão feitas quatro votações e o futuro Papa deverá ter pelo menos dois terços dos boletins contados.