“Comprometo-me a levar as preocupações dos Açores às políticas da UE”
21 de fev. de 2022, 10:57
— Carolina Moreira
Em que consiste o Grupo Europeu de Ética para a Ciência e Novas Tecnologias?Este
grupo foi fundado em 1991 para assessorar o presidente da Comissão
Europeia em tudo o que sejam políticas de desenvolvimento da União
Europeia que tenham um impacto social forte e que mereça uma apreciação
ética. Trata-se de um grupo multidisciplinar, constituído por 15 peritos
recrutados nos 27 estados-membros, que vai reportar exclusivamente à
presidente da Comissão Europeia e ao colégio de comissários e, por isso,
tem um papel essencial de assessoria nas várias políticas da União
Europeia. Neste sentido, é realmente importante porque pode moldar as
políticas europeias em áreas muito diversas, tais como agricultura e
pescas que têm questões ambientais e sociais envolvidas, ou os
transportes e as alterações climáticas, ou mesmo aquelas muito
especificamente decorrentes dos avanços da ciência e das novas
tecnologias, como seja a inteligência artificial ou a saúde global. O
leque é efetivamente muito amplo e o grupo pode responder e dar parecer
àquilo que o colégio de comissários e a presidente Ursula von der Leyen
nos pedir ou o próprio grupo pode considerar que há uma temática
essencial para o desenvolvimento da União Europeia e tomar a iniciativa
de fazer propostas/ recomendações nessa mesma área.Este grupo
europeu é constituído por peritos de diferentes especialidades. Sendo
uma das 15 personalidades convidadas para desempenhar esta função, qual
será o seu papel? São pessoas de formações académico- científicas e
experiências profissionais diferentes, é efetivamente um grupo
multidisciplinar, e a riqueza deste pequeno grupo é precisamente a sua
diversidade. Por isso, perante um determinado tema que seja preciso
trabalhar, cada um dará o seu contributo a partir da perspetiva em que
se encontra. Por isso, eu estarei obviamente nas questões mais
específicas do pensamento ético, porque é essa a minha área.O que significa para si esta nomeação?Acho
que é muito importante de facto, em primeiro lugar, Portugal estar
presente neste grupo restrito, são apenas 15 pessoas para 27
estados-membros. Que esse espaço seja ocupado por quem vem de uma região
autónoma, e particularmente os Açores, diria que é ainda mais
importante, porque todos nós temos consciência que, para funções
internacionais quer mesmo nacionais, mais raramente recrutam a partir
das regiões autónomas e mais dificilmente recrutam a partir dos Açores,
devido a fatores vários. Por isso, não é muito fácil conseguirmos do
meio do oceano Atlântico chegarmos a estas áreas de influência direta em
políticas com uma abrangência tão grande como acontece na União
Europeia. E estar mais próximo é sempre vantajoso, seja pela informação
que se tem, pelo conhecimento que se adquire, pela capacidade de
influência, pelas sensibilidades que se levam, e eu levarei comigo
obviamente toda a sensibilidade do que é viver, trabalhar, procurar
desenvolvimento numa região ultraperiférica. Isto estará sempre presente
no meu perfil, no meu discurso, nas preocupações que vou apresentar
para as várias políticas que venham a ser pensadas neste grupo. Por
isso, é a presença não só de uma pessoa, mas de toda a carga que ela
leva consigo e que obviamente é de cariz, de perfil, de marca açoriana.E tendo em conta o grupo tão restrito, trata-se de um reconhecimento ao seu trabalho a nível europeu.Sem
dúvida. Obviamente que é uma designação de muito mérito e que é um
reconhecimento de todo o percurso que fiz, quer na minha vida académica,
quer das experiências que fui acumulando, de que não está ausente o
facto de ter sido deputada ao Parlamento Europeu e que me traz um
conhecimento muito grande das políticas europeias, do modo de
funcionamento das instituições europeias, o que será também um
contributo que darei a este grupo. Por outro lado, permite-me continuar a
acompanhar o desenvolvimento da União Europeia.O facto de neste
momento também ser presidente do Conselho Nacional de Ética para as
Ciências da Vida é mais um aspeto a juntar, uma vez que o Grupo Europeu
de Ética tem uma relação privilegiada com os conselhos nacionais de
Ética e, estando eu em ambos, com certeza que o estreitamento com
Portugal será também muito maior. Por isso, além da satisfação que tenho
em termos pessoais, acho que é uma nomeação muito importante para
Portugal e que é algo de inédito em termos de Açores.Foi convidada
por Ursula von der Leyen a assumir este papel a 26 de janeiro, para um
período de três anos. Quando será a tomada de posse?Temos já a
primeira reunião marcada para esta semana, por isso já vamos começar a
trabalhar e será interessante perceber quais serão os temas que este
grupo irá eleger como prioritários. Há uma forte expectativa para os
próximos dois meses de trabalho deste grupo que nos irão dar um pouco a
imagem do que é importante neste momento em termos de políticas
europeias.