Comissões de Proteção de Crianças e Jovens nos Açores com aumento de casos sinalizados em 2021
18 de nov. de 2022, 19:10
— Lusa/AO Online
“Essas
sinalizações têm vindo sempre a aumentar”, afirmou, em declarações à
Lusa, a presidente do Comissariado dos Açores para a Infância, Ana
Margarida Silva, acrescentando que as pessoas estão hoje “mais
informadas, mais sensibilizadas e comprometidas com o bem-estar das
crianças” e, por isso, também “mais despertas para denunciar e para
identificar situações”.A responsável do
comissariado falava à margem do IV Encontro Regional de Comissões de
Proteção de Crianças e Jovens dos Açores, que decorre na Praia da
Vitória, na ilha Terceira.Segundo dados do
Comissariado dos Açores para a Infância, em 2021, as 19 CPCJ dos Açores
registaram 2.714 processos, dos quais 1.235 abertos naquele ano, 459
reabertos e 1.020 que transitaram de 2020.Em comparação com o ano anterior, houve um aumento de 557 situações de perigo sinalizadas.A Autoridade Policial foi a entidade que apresentou mais sinalizações às CPCJ, num total de 626.O
maior número de processos foi registado no concelho de Ponta Delgada
(764), na ilha de São Miguel, seguindo-se Ribeira Grande (582), na mesma
ilha, e Angra do Heroísmo (312), na ilha Terceira.Segundo Ana Margarida Silva, os problemas surgem cada vez mais rápido, o que vai obrigar a um reforço de meios.“A
formação é importante, mas também o número de técnicos importa. Se há
aumento das problemáticas e aumento do número de crianças e jovens tem
de aumentar também de forma proporcional os interventores nessa área”,
admitiu.A problemática mais sinalizada
pelas CPCJ nos Açores em 2021 foi “a exposição a comportamentos que
afetam gravemente a segurança e o equilíbrio emocional das crianças e
jovens”, da qual se destaca a violência doméstica.“Estão
a assistir a situações de violência ou de consumos por parte dos pais,
que influenciam depois o desenvolvimento destas crianças tanto
emocional, como intelectual, como físico”, alertou a responsável.Outro dos problemas que preocupa o comissariado é o consumo de estupefacientes e álcool, que afeta também crianças e jovens.“Nas
crianças de forma muito prematura já nos estão a chegar situações muito
graves. Temos de assumir a responsabilidade de encontrar respostas
adequadas para esta problemática”, apontou.O encontro de CPCJ incluiu um ‘workshop’ destinado aos alunos da Escola Secundária Vitorino Nemésio sobre segurança na Internet.“As
crianças hoje em dia estão demasiado expostas, estão demasiado tempo
dedicadas à Internet, aos jogos, às redes sociais. Têm esse acesso
facilitado e não é doseado. Temos de ter essa responsabilidade como
adultos e como pais de dosear esse acesso”, salientou Ana Margarida
Silva.A diretora regional para a Promoção
da Igualdade e Inclusão Social, Sandra Garcia, defendeu também que as
crianças e jovens têm de sentir que podem contar com as CPCJ e com
outras instituições.“Há esperança, há
futuro, há respostas para os vários problemas. Queremos que elas tenham
voz, tenham poder, possam pedir-nos ajuda para que nós possamos cumprir o
nosso dever”, salientou.Sandra Garcia destacou o papel das CPCJ, mas apelou igualmente a uma maior intervenção da sociedade.“Nós
todos como sociedade temos o dever de alertar, isto não é só para as
entidades, nem só para as instituições. Uma comunidade solidária é uma
comunidade atenta. Nenhum de nós tem o direito de voltar a cara para o
lado. Compete a cada um de nós sinalizar determinadas situações”,
reforçou.