Comissão Von der Leyen com votos para todos os gostos dos deputados portugueses
26 de nov. de 2019, 18:40
— Lusa/AO Online
Na
véspera de a Comissão ir finalmente a votos no hemiciclo de
Estrasburgo, concluído o processo de audições aos comissários designados
– que levou já a um atraso de um mês na entrada em funções do novo
executivo, após a rejeição dos nomes originalmente apresentados por
França, Hungria e Roménia -, eurodeputados dos seis partidos portugueses
com presença no PE foram apenas unânimes em antecipar a aprovação do
colégio, que deverá assim assumir funções em 01 de dezembro.O
líder da delegação do PS, Carlos Zorrinho, indicou que os socialistas
vão “votar favoravelmente esta Comissão, porque qualquer decisão
diferente seria criar instabilidade” e “enfraquecer a Comissão não serve
ninguém”.Por outro lado, sublinhou, a
Comissão Von der Leyen tem “um compromisso político, designadamente com
os Socialistas e Democratas” (S&D) e “uma parte significativa do seu
programa são medidas que foram negociadas e comprometidas com o
S&D”.Zorrinho garantiu todavia que os
socialistas estarão “vigilantes”, sobretudo no quadro das negociações
sobre o próximo orçamento plurianual da UE (2021-2027), contando que a
Comissão seja “aliada” para evitar cortes nas políticas de coesão,
agrícola e de pescas.Já o líder da
delegação do PSD, Paulo Rangel, antecipa que não haja sobressaltos na
votação de quarta-feira, prevendo mesmo que haja “uma passagem até
confortável da Comissão, mais confortável do que aquela passagem um
pouco à tangente quando foi o voto para a presidente Von der Leyen”, em
julho (foi aprovada apenas por uma diferença de nove votos), pouco
depois das eleições europeias, num contexto em que havia “um certo
amargo de boca”, tanto entre os socialistas – por não ter sido escolhido
Frans Timmermans -, como também no próprio PPE, por o presidente não
ser o ‘spitzenkandidat’ Manfred Weber.“A
Comissão é uma boa Comissão, só não sei é se a forma como está
organizada será a mais funcional, porque há ali algumas sobreposições de
competências que vão dificultar a vida a alguns comissários”,
designadamente na área da economia e política monetária, opinou.A
Comissão Von der Leyen terá também o voto a favor do único deputado
eleito pelo CDS, Nuno Melo, que no entanto não passa um ‘cheque em
branco’ ao novo executivo, tendo de resto já dado conta ao PPE das suas
“linhas vermelhas”.“Da minha parte, eu
estarei do lado desta Comissão, tendo deixado claro junto do grupo do
PPE que nunca votarei [a favor] o que quer que tenha que ver com
impostos europeus ou o que tenha que ver com o fim da regra da
unanimidade no caso de recursos próprios ou de política externa, tal e
qual como [no caso] de listas transnacionais”, salientou.Desse
modo, indicou, “mesmo que o PPE pretenda que se vote a favor” nestas
matérias, Melo votará “contra essa vontade”, porque esse também é o seu
mandato eleitoral, “por estar na base naquilo que o CDS defendeu durante
toda a campanha e defende do ponto de vista programático para a UE”.Já
o Bloco de Esquerda votará contra a nova Comissão Europeia, tendo José
Gusmão apontando que “houve momentos de escrutínio importantes sobre
esta Comissão”, designadamente sobre os “conteúdos das pastas, alguns
nomes de pastas e conflitos de interesse que eram bastante gritantes no
caso de alguns comissários”, mas considerou o desenlace do processo de
audições “bastante dececionante”. “Não há
nenhuma alteração nas prioridades estratégicas desta equipa, que
denunciam uma redução do peso da política de coesão e grande aposta na
militarização da UE”, lamentou.Questionado
sobre se uma rejeição da Comissão não criaria um novo problema à UE,
apontou que, “de cinco em cinco anos o mesmo discurso é feito, perante o
PE, por quem faz estes negócios nos bastidores”, e “já muitas Comissões
passaram por causa desse argumento”. O
outro partido português pertencente ao Grupo da Esquerda Unitária, o
PCP, também votará contra, com João Ferreira a comentar que “esta é uma
Comissão totalmente alinhada com os interesses das principais potências,
seja na sua composição", pois "as figuras proeminentes vêm todas da
Alemanha e dos países do centro", seja também porque "é uma Comissão
alinhada com esses interesses também pelo programa que apresenta”, tendo
as audições aos comissários “acabado por confirmar isso mesmo”.Antecipando
que o executivo de Von der Leyen vai “acentuar um caminho que tem vindo
a ser feito de concentração de poder nos grandes Estados e de imposição
aos outros Estados de políticas contrárias aos seus interesses e
necessidades”, o deputado comunista sublinhou que a rejeição do PCP é
“com base em princípios, é uma rejeição que se baseia não meramente em
pessoas, mas naquilo que esta Comissão se propôs fazer, que já disse que
vai fazer, e no facto de esse programa ser muito negativo para países
com Portugal”, porque acentuará assimetrias já hoje existentes.Por
fim, Francisco Guerreiro, do partido Pessoas-Animais-Natureza, admitiu
estar “cético”, mas não quer “fechar a porta”, pelo que, à semelhança da
posição que deverá ser maioritária no seu grupo político, os Verdes,
abster-se-á. “Temos as nossas dúvidas. É
um projeto pró-Europa, nisso claramente estamos alinhados, mas temos
muitas dúvidas, nomeadamente quanto à ação climática (…) retórica
existe, mas depois na prática não vemos nada em concreto”, disse.“Eu deixarei a porta em aberto, mas também não passarei nenhum cheque em branco, portanto eu abster-me-ei”, anunciou.