Comissão remete para Ferro Rodrigues decisão sobre revisão constitucional do Chega
7 de out. de 2020, 11:30
— Lusa/AO Online
"Parece-me que não cabe à Assembleia da
República, por mais flagrante que seja a constitucionalidade de um
projeto de revisão, vedá-lo por via de uma alegação preventiva de
violação da lei fundamental", defendeu hoje a relatora do parecer, a
deputada socialista Isabel Moreira, na reunião de hoje da comissão em
que o documento foi aprovado por larga maioria.O
deputado André Ventura, do Chega, que participou por videoconferência
na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias, foi o único a votar contra o parecer, apesar de
ter "acompanhado" o sentido do parecer de Isabel Moreira quanto à
admissibilidade do projeto.Face
às dúvidas de inconstitucionalidade do projeto de revisão apresentado
pelo Chega, o presidente da AR, Ferro Rodrigues, pediu um parecer à
comissão sobre as condições de admissibilidade, nomeadamente quanto aos
limites materiais de uma alteração à lei fundamental.As
questões sobre o cumprimento, ou não, dos limites à revisão (como a
forma republicana de governo ou o respeito pelos direitos e dignidade
humana) deve, segundo o parecer, ser avaliados por uma comissão eventual
de revisão da Constituição.O
projeto de revisão constitucional do Chega, anunciado em 22 de
setembro, prevê a remoção dos órgãos genitais a criminosos condenados
por violação de menores, algo que em si mesmo encerra dúvidas de
conformidade com a lei fundamental.Segundo
a iniciativa apresentada pelo partido, a Constituição passaria a
permitir a "pena coerciva de castração química ou física a indivíduos
condenados pelos tribunais portugueses por crimes de violação ou abuso
sexual de menores, abuso sexual de menores dependentes e atos sexuais
com adolescentes", assim como a "pena de prisão perpétua para crimes
especialmente graves, a definir em legislação especial".Sem
se referirem a eles, esta foi um dos aspetos abordados por vários
deputados, como elementos que “desfiguram” princípios constitucionais,
como referiu Isabel Moreira.Mónica
Quintela, do PSD, afirmou que o seu partido apoia o parecer e que seria
“inadmissível abrir mão” de princípios fundamentais de direitos humanos
e fundamentais.António
Filipe, do PCP, afirmou a sua concordância com o parecer, sublinhando
que há propostas do Chega que “violam os limites materiais” de uma
revisão constitucional, não só quanto ao princípio da dignidade da
pessoa humana, como na forma republicana de governo, mas remeteu esse
debate para a discussão numa comissão eventual. Já
José Manuel Pureza, do BE, considerou o parecer de “clarificador” ao
concluir que a comissão de Assuntos Constitucionais não tem competência
para um “juízo preliminar sobre projetos de revisão constitucional”.André
Ventura, do Chega, que contestou a escolha de Isabel Moreira para
relatora, alegando falta de imparcialidade, elogiou hoje o sentido das
conclusões da deputada, nomeadamente quanto à impossibilidade de a
comissão “obstar” à apresentação de um projeto de revisão da lei
fundamental.Com
este parecer, a comissão de Assuntos Constitucionais remete para Ferro
Rodrigues, presidente do parlamento, uma decisão sobre a admissão do
projeto de revisão da Constituição.