Comissão parlamentar suspende trabalhos por mais 15 dias
Novo Banco
2 de fev. de 2021, 18:07
— Lusa/AO Online
"As
dificuldades que já existiam acentuaram-se com o agravamento da
pandemia. Nesse sentido, ficou decidido por todos os partidos, por
unanimidade, no sentido de se voltar a suspender os trabalhos por mais
15 dias", disse o parlamentar social-democrata à Lusa à saída da reunião
de Mesa e Coordenadores que decorreu hoje no parlamento.De
acordo com Fernando Negrão, esta nova suspensão permitirá à Comissão
Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e
imputadas ao Fundo de Resolução, como é oficialmente designada, receber
toda a documentação solicitada às instituições."Não
só se fica com estes 15 dias com toda a documentação, como também
faremos aquilo que queremos fazer, que são as audições por via
presencial, e numa comissão de inquérito são fundamentais as audições
presenciais", prosseguiu, referindo que "não faz sentido" fazer audições
por videoconferência ou por carta.O presidente da comissão parlamentar disse ainda à Lusa que já foi recebida entre 60% a 70% da documentação pedida."Falta-nos
documentação importante do Banco Central Europeu e da Direção-Geral da
Concorrência da Comissão Europeia. Falta-nos também, inclusive,
documentação da Deloitte, mas tudo dentro dos prazos, porque foram
pedidas prorrogações", disse o presidente da comissão parlamentar.Quanto
ao pedido de vários advogados penalistas, associados ao Fórum Penal,
para não ser ouvido no parlamento o 'hacker' Rui Pinto, Fernando Negrão
disse que o assunto "não foi debatido" na reunião de hoje."Foi
dito que na altura própria, quando for para ser ouvido, se tratará
desse assunto, uma vez que é assim que fazemos com cada uma das pessoas
que vão ser ouvidas", acrescentou, dizendo também que a comissão ainda
não recebeu a carta dos advogados penalistas.Um
grupo de advogados pediu ao presidente da Assembleia da República,
Ferro Rodrigues, e ao presidente da comissão de inquérito ao Novo Banco,
Fernando Negrão, que Rui Pinto não seja ouvido no parlamento, por
considerarem violação da Constituição."Não
permita que seja violada a Constituição ao admitir como prova no
Inquérito Parlamentar sobre o Novo Banco aquela que foi obtida com
acesso criminoso aos sistemas informáticos de advogados, magistrados e
instituições públicas e privadas", pode ler-se na carta do Forum Penal -
Associação de Advogados Penalistas, dirigida a Ferro Rodrigues e
Fernando Negrão, a que a Lusa teve acesso e também publicada no Twitter
de Rui Pinto, que contestou o seu conteúdo.Entre
os signatários da carta encontra-se o Conselho Consultivo da
associação, onde se encontram nomes como o do presidente Germano Marques
da Silva, João Medeiros, Manuel Magalhães e Silva, Paulo Saragoça da
Matta, Raúl Soares da Veiga, Rogério Alves, Rui Patrício ou Teresa
Serra.Os signatários defendem, no
documento, que "os titulares de cargos públicos não têm o direito de
perdoar crimes nem de se servirem do produto desses crimes, sejam quais
forem as motivações", considerando que "ao admitirem-no, são cúmplices
dos atos criminosos e estimulam os criminosos na senda do crime".No
domingo, o advogado do ‘hacker’ Rui Pinto considerou "inaceitável" que o
Fórum Penal/Associação de Advogados Penalistas pedisse ao presidente da
Assembleia da República que o seu constituinte não seja ouvido na
Comissão Parlamentar de Inquérito ao Novo Banco. Em
missiva dirigida ao Fórum Penal, o advogado Francisco Teixeira da Mota
mostrou-se indignado com a posição assumida pelo fórum, revelando
renunciar "com efeitos imediatos" à qualidade de membro daquela
associação, que, em seu entender, pretende "impedir que uma Comissão
Parlamentar de Inquérito tenha acesso a informações eventualmente
relevantes para os seus objetivos", através do depoimento de Rui Pinto.No
âmbito da Comissão de Inquérito ao Novo Banco, o PAN pediu uma audição a
Rui Pinto, "para que apresente os documentos que afirma comprovarem um
desvio de 600 milhões de euros através da criação de empresas meramente
instrumentais, depósitos fictícios, e transferências bancárias para
‘offshores’ como as Ilhas Virgens Britânicas e as Seychelles”.