Comissão Independente já recebeu 432 testemunhos de abusos sexuais na Igreja
11 de out. de 2022, 11:09
— Lusa/AO Online
“Há 424 testemunhos recolhidos pelas diversas
formas englobadas no trabalho da Comissão. O número mínimo de vítimas
será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem
todas as formas descritas na lei portuguesa”, afirmou o pedopsiquiatra
Pedro Strecht, assinalando: “A maior parte das situações encontra-se
juridicamente prescrita”.O coordenador da
Comissão salientou que os 424 depoimentos hoje anunciados são aqueles
que foram validados pelos membros, mas que já receberam mais
testemunhos. Quanto aos 17 casos já enviados para o Ministério Público,
Pedro Strecht referiu que “dizem respeito a situações que, depois de
análise detalhada, são considerados como não prescritos dentro do tempo
em que aconteceram”, destacando que “no final serão enviados todos os
nomes”.Em conferência de imprensa
realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o coordenador da
Comissão Independente sublinhou que a prescrição é a razão da “grande
diferença” entre o número de situações reportadas a esta entidade e as
17 situações que foram já remetidas ao MP. Sobre este aspeto, adiantou
ainda que “agora existem mais 30 situações em estudo para idêntico
procedimento” na justiça.“Existem diversas
situações em que o mesmo alegado abusador é referido por diferentes
pessoas ao longo dos anos, o que reforça a noção de risco de prossecução
temporal deste tipo de atividade e em locais diversos onde vão sendo
colocados para exercer atividade religiosa”, observou Pedro Strecht, que
disse também existirem contactos com a Polícia Judiciária sobre
situações já reportadas a esta instituição e que, por isso, “dispensam
nova sinalização ao MP”.Simultaneamente, o
juiz conselheiro jubilado Álvaro Laborinho Lúcio assegurou que os dados
da Comissão Independente não são transmitidos à Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP) ou às comunidades diocesanas, mas que a avaliação final
da prescrição das situações reportadas passa pela justiça e não por
esta comissão.“A única entidade a que
transmitimos é ao Ministério Público. Não somos nós quem julga a
prescrição, damos sempre uma margem de erro, mas deve ser o Ministério
Público a dizer”, reforçou, continuando: “Este é um estudo cuidadoso e
está a meu cargo, mas passa por todos. Nenhuma informação vai para fora
da comissão, exceto para o Ministério Público”.Contudo,
Laborinho Lúcio lembrou que a “comissão não foi constituída para
denunciar os casos de abusos” e que este não é “o objetivo primeiro” dos
membros desta entidade. Apesar disso, assegurou que todas as situações
reportadas após 31 de outubro – a data limite para os testemunhos terem
relevância estatística para o relatório final – não deixarão de ser
comunicados ao MP. Além de Pedro Strecht,
fazem ainda parte da comissão Álvaro Laborinho Lúcio, juiz conselheiro
jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, Ana Nunes de Almeida, socióloga
e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa, Daniel Sampaio, psiquiatra, professor catedrático jubilado da
Faculdade de Medicina de Lisboa, Filipa Tavares, assistente social e
terapeuta familiar, e Catarina Vasconcelos, cineasta.As
denúncias e testemunhos podem chegar à comissão através do
preenchimento de um inquérito 'online' em darvozaosilencio.org, através
do número de telemóvel +351917110000 (diariamente entre as 10:00 e as
20:00), por correio eletrónico, em geral@darvozaosilencio.org e por carta para "Comissão Independente", Apartado 012079, EC Picoas 1061-011 Lisboa.