Comissão Europeia “esperançada” em acordo esta semana sobre orçamento da UE
17 de fev. de 2020, 13:18
— Lusa/AO Online
Na
conferência de imprensa diária do executivo comunitário, no início de
uma semana marcada pela cimeira extraordinária que terá início na
quinta-feira em Bruxelas para tentar chegar a um acordo sobre o futuro
Quadro Financeiro Plurianual, a Comissão Europeia, através do seu
porta-voz, considerou que a proposta colocada sobre a mesa pelo
presidente do Conselho Europeu constitui “um bom ponto de partida”.Eric
Mamer sustentou que a proposta “está acima da proposta finlandesa”,
rejeitada pelos líderes da UE no Conselho Europeu de dezembro passado,
e, entre aspetos que segundo a Comissão são positivos, destacou que a
mesma “prevê claramente ‘dinheiro fresco’ para o Fundo da Transição
Justa” e contempla que 25% do montante global seja destinado a
atividades ligadas ao Pacto Ecológico, a ‘bandeira’ da ‘Comissão Von der
Leyen’. “Claramente, cabe ao presidente
do Conselho Europeu, Charles Michel, fazer avançar estas negociações. É
obvio que estas negociações são sempre muito complexas. A presidente [da
Comissão, Ursula von der Leyen] disse na semana passada em Estrasburgo
que não há tempo a perder, e por isso estamos obviamente esperançados
num resultado positivo na cimeira”, declarou.A
proposta divulgada na última sexta-feira pelo Conselho, e que constitui
o ponto de partida para as negociações durante a cimeira extraordinária
de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, é bastante
semelhante à que foi apresentada pela presidência finlandesa do Conselho
da UE no segundo semestre de 2019, e continua a prever cortes na
Política de Coesão e na Política Agrícola Comum, rejeitados por
Portugal, entre muitos outros Estados-membros.O
documento contempla um envelope global de 1.094 mil milhões de euros,
representando estas contribuições o equivalente a 1,074% do Rendimento
Nacional Bruto (RNB) do conjunto da União, muito próximo do valor
proposto no ano passado por Helsínquia (1,07% do RNB), e que Portugal
considerou na altura “inaceitável”.Esta
nova base negocial proposta por Charles Michel, depois de semanas de
consultas aos 27, destina 323 mil milhões de euros aos fundos da
política de coesão (contra 367,7 mil milhões do atual quadro financeiro
2014-2020, já sem contar com os contributos do Reino Unido) e 329,3 mil
milhões de euros para a Política Agrícola Comum (contra 367,7 mil
milhões do orçamento plurianual ainda em curso).Um
grupo alargado de Estados-membros, denominados os “Amigos da Coesão”,
com Portugal à cabeça, têm reafirmado a sua firme oposição a cortes
sobretudo nesta política, assim como na PAC.A
proposta de Charles Michel continua a ser inferior à que foi
apresentada originalmente pela Comissão Europeia (que contemplava
contribuições de 1,114% do RNB), e muito aquém do valor de 1,3% do RNB
defendido pelo Parlamento Europeu, que tem a última palavra no processo
negocial, e que já manifestou o seu descontentamento com o novo
documento sobre a mesa, apontando precisamente que não difere muito da
proposta finlandesa, claramente rejeitada pela assembleia. “A
proposta em cima da mesa hoje não é uma base satisfatória para alcançar
um orçamento que responda aos compromissos assumidos no início do novo
mandato, pelo que exorto os chefes de Estado e de Governo a envidarem
todos os esforços para melhorá-la, no âmbito da cimeira de 20 de
fevereiro, porque, caso contrário, o Parlamento não poderá aceitá-la”,
avisou o presidente do Parlamento, David Sassoli, horas depois de
conhecida a proposta.Sassoli advertiu que
“o Parlamento está ciente da importância de um acordo oportuno […] mas
não está disposto a apoiar um acordo a qualquer custo”, observando que
“esta é uma proposta que contradiz as ambições proclamadas em três
prioridades que os Estados-Membros - e não o Parlamento - colocaram no
centro da sua visão: clima, digitalização e dimensão geopolítica”, e
“deixa a Europa atrasada” face a potências como a China ou os Estados
Unidos.