Comissão diz que risco de incêndio “mantém-se muito elevado” e propõe avaliação externa
Pedrógão Grande
2 de mar. de 2021, 18:27
— Lusa/AO Online
“O
cenário atual na zona do Pinhal Interior é de uma monocultura
instalada, em que algumas espécies de crescimento rápido, como o
eucalipto, estão naturalizadas e, se nada for feito para contrariar essa
tendência, vão ocupar a mancha florestal”, lê-se no relatório da
comissão eventual de inquérito parlamentar à atuação do Estado na
atribuição de apoios na sequência dos incêndios de 2017 na zona do
Pinhal Interior.Da responsabilidade do
deputado relator Jorge Paulo Oliveira (PSD), o projeto de relatório foi
hoje apresentado na respetiva comissão, com um conjunto de 83 conclusões
e 36 recomendações sobre agricultura, atividades económicas, floresta e
habitação.Relativamente aos apoios à
floresta, há 14 conclusões, em que se inclui a perceção da maioria dos
depoentes não governantes, ouvidos na comissão, de que “pouco ou nada
foi feito em termos de reordenamento e prevenção de incêndios”,
existindo receio de que uma nova tragédia volte a acontecer, “se nada
for feito a curto prazo”.“Os apoios do
Estado para a reflorestação, apesar de existentes, tiveram muito baixas
execuções, fruto da desmotivação dos proprietários de reinvestir em
territórios que acreditam que voltarão a arder”, segundo o relatório,
indicando que, entre os depoentes não governantes, não existe a perceção
de onde foram investidos os milhões anunciados pelo Governo para
medidas para o setor florestal.Em
oposição, a perceção dos representantes do Governo e entidades
diretamente tuteladas, ouvidos na comissão, é que “houve um amplo apoio
ao setor das florestas e foram aplicadas medidas efetivas no terreno”.Com
13 recomendações sobre a floresta, das quais algumas subscrevem as
propostas da Comissão Técnica Independente criada para analisar os
grandes fogos rurais de 2017, realça a ideia de que o sistema de defesa
da floresta contra incêndios deve ter dois eixos de atuação,
designadamente a defesa de pessoas e bens e a proteção da floresta.“Os
intervenientes na prevenção e gestão florestais têm de fazer parte dos
processos de tomada de decisão operacional no combate aos incêndios”,
propõe a comissão eventual de inquérito parlamentar, defendendo que deve
ser realizada uma avaliação global externa ao Sistema Nacional de
Defesa da Floresta contra Incêndios (SNDFCI), que integre a análise da
eficiência dos investimentos realizados.Um
maior esforço de qualificação dos recursos humanos do SNDFCI, a
integração no sistema educativo nacional de opções de formação
qualificada nos domínios da proteção civil e da defesa da floresta
contra incêndios, a diversificação da floresta e a utilização de
espécies que conduzam a formações menos combustíveis são outras das
recomendações no âmbito da floresta.“Concretamente
no Pinhal Interior, recomenda-se o recurso a modelos de silvicultura
com sobreiro e com medronheiro que se têm demonstrado apropriados para
fazer parte integrante de uma solução que passe pela diversificação da
floresta”, aponta o relatório da comissão, subscrevendo a criação de um
programa que compense a perda de rendimento dos proprietários e gestores
florestais devido à opção por florestas de carvalhos, castanheiros e
outras folhosas.Entre as recomendações
destacam-se ainda o reforço do papel das Forças Armadas no sistema de
proteção civil e a aposta na estratégia de sensibilização e autoproteção
das populações, com o envolvimento ativo das autarquias, para a adoção
de boas práticas e o desvio de comportamentos de risco no âmbito dos
incêndios rurais.O incêndio que deflagrou
em 17 de junho de 2017 em Escalos Fundeiros, no concelho de Pedrógão
Grande, e que alastrou depois a municípios vizinhos, nos distritos de
Leiria, Coimbra e Castelo Branco, provocou 66 mortos e 253 feridos, sete
deles com gravidade, e destruiu cerca de 500 casas, 261 das quais eram
habitações permanentes, e 50 empresas.