Comissão defende apoio a vítimas na saúde mental como em Pedrógão
21 de out. de 2017, 13:08
— AO/Lusa
A Comissão de Acompanhamento das Vítimas dos
incêndios do Pinhal Interior Norte entregou na sexta-feira ao secretário
de Estado e Adjunto da Saúde um relatório sobre o trabalho desenvolvido
em resposta às necessidades das populações afetadas pela catástrofe que
em junho atingiu os concelhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos
Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penela e Sertã,
nomeadamente na área da saúde mental.Os elementos da comissão
sublinham que esta atividade visou “garantir no imediato a resposta de
emergência e, após esta, uma continuidade de cuidados assente na rapidez
da sua prestação, numa fácil acessibilidade e na definição de uma
estratégia terapêutica centrada nas necessidades de quem sofre”.“Tendo
em conta a natureza das vivências traumáticas psicológicas, das
perturbações concomitantes e dos riscos associados, tem sido preocupação
dos serviços de saúde mental assegurar a sustentabilidade da resposta,
privilegiando o trabalho em rede, multidisciplinar e multissetorial,
nomeadamente com os profissionais da área dos cuidados primários de
saúde”, lê-se no documento que acompanha a descrição do trabalho
realizado.No relatório, os peritos recordam que os três concelhos
mais afetados pelos incêndios de junho (Pedrógão Grande, Castanheira de
Pera e Figueiró dos Vinhos) tinham uma população inscrita nos cuidados
de saúde primários de 13.404 cidadãos, distribuídos por várias unidades
de saúde, nove médicos de família, 16 enfermeiros, um médico de saúde
pública, dois técnicos de saúde ambiental, quatro psicólogos e um
técnico de serviço social.A Equipa de Saúde Mental Comunitária
(ESMC) era composta por um (pontualmente dois) psiquiatra, um psicólogo e
um enfermeiro, mas a partir de 22 de junho foi alargada, passando a
funcionar com três psiquiatras, dois psicólogos, quatro enfermeiros e
dois assistentes sociais.Esta equipa dá resposta à população dos
três concelhos afetados, além de manter em funcionamento a consulta nos
concelhos de Pampilhosa, Ansião e Alvaiázere. Alargou ainda a sua área
de ação ao concelho de Góis.Segundo o relatório, a ESMC mantém,
desde o final da fase aguda, a mesma metodologia de trabalho, através de
reuniões matinais de planeamento diário, para avaliar e programar
atividades e pedidos urgentes, organização das atividades nos centros de
saúde e domicílios e para a programação de intervenções necessárias.
Em relação à resposta hospitalar, o documento refere que as unidades
“têm garantido a resposta necessária às solicitações dos utentes e ao
encaminhamento dos serviços de saúde locais, bem como o tratamento das
situações críticas”.Até 21 de junho, deram entrada nas urgências
dos hospitais 156 doentes. A 22 de junho contabilizavam-se 24
internamentos (sete casos com prognóstico reservado). Para a
comissão, “o modelo de organização da prestação de cuidados em saúde
mental, sendo baseado em equipas de psiquiatria e saúde mental
comunitária, sediadas em unidades dos Agrupamentos dos Centros de Saúde
(ACES) das localidades afetadas, permite uma resposta imediata e
organizada para responder às necessidades de intervenção
multidisciplinar”.Os autores do relatório consideram que “os
hospitais, com os seus Departamentos de Psiquiatria e Saúde Mental,
devem promover uma organização comunitária dos cuidados de saúde mental,
constituída por equipas multidisciplinares que, de forma permanente ou
transitória, esteja integrada nos Cuidados de Saúde Primários/ACES, para
melhor responderem em rede à situação de catástrofe”.A propósito
de novos acontecimentos, como os incêndios que atingiram a zona Centro
no passado domingo, a Comissão entende que “o modelo de intervenção que
tem vindo a acompanhar tem virtualidades que poderão ser replicadas em
situações análogas”.Os incêndios que atingiram Pedrógão Grande e
os concelhos vizinhos, em junho, provocaram 64 mortos e mais de 250
feridos, tendo ainda ocorrido a morte de uma mulher que foi atropelada
quando fugia deste fogo.No domingo passado, as centenas de
incêndios que deflagraram nas regiões Norte e Centro, o pior dia de
fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 44 mortos e cerca de 70
feridos, mais de uma dezena dos quais graves.