Comissão de inquérito do parlamento açoriano remete para MP ausência de presidente da Unileite
28 de mar. de 2023, 18:41
— Lusa
“Ponho
à consideração da comissão prosseguir-se os trâmites da lei, no que diz
respeito à não comparência do senhor Vitoriano Falcão, presidente da
Unileite, e que, portanto, se cumpra a lei e se ative as entidades
judiciais”, determinou a deputada Sabrina Furtado, presidente da
comissão de inquérito, que só teve conhecimento da ausência dez minutos
antes do início da reunião.Segundo a lei, a
não comparência numa comissão de inquérito, ou a recusa de prestação de
depoimentos, pode configurar um crime de “desobediência qualificada”,
que é punido com “pena de prisão até dois anos, ou multa até 240 dias”.Vitoriano
Falcão, o novo presidente da Unileite, tinha sido convocado pelo
parlamento açoriano para prestar depoimentos no âmbito de uma
investigação que está a decorrer na comissão de inquérito, criada com o
intuito de apurar se houve equidade e isenção na atribuição de avales do
Governo a privados, no tempo dos anteriores executivos socialistas.Num
email enviado aos serviços da Assembleia Legislativa dos Açores, às
10:50 (hora local), apenas dez minutos antes da reunião começar, a
administração da Unileite alegou que não havia “interesse na solicitada
presença”, visto que a união de cooperativas de São Miguel não havia
beneficiado de nenhum tratamento especial nos créditos contratados.“Todo
o passivo desta união de cooperativas, contratado pela Caixa Agrícola,
está colaterizado por uma garantia real, constituída sobre a unidade
fabril, com o valor comercial à data, adequado à solvabilidade dos
créditos mutuados, não se vislumbrando assim, para a região, riscos
indemnizatórios de primeira linha”, refere o mesmo ofício.A
presidente da comissão de inquérito leu a justificação apresentada pela
Unileite, que considerou ser “uma falta de respeito” para com o
parlamento açoriano e para com a comissão de inquérito, adiantando que
devia ter sido Vitoriano Falcão a ler aquela declaração na presença dos
deputados.Sabrina Furtado observou que
“não deve ser” o convidado “a decidir pela pertinência ou interesse
desta comissão em ouvi-lo”, e como tal, a sua ausência, e os argumentos
invocados, constituem “uma falta de respeito”.O
caso foi colocado à votação dos elementos que integram a comissão de
inquérito, mas apenas os deputados do PSD, do CDS e do PPM (que fazem
parte do Governo de coligação) votaram a favor do envio do processo para
o Ministério Público.Os deputados do PS abstiveram-se.Esta
não é, no entanto, a primeira vez que alguém convocado para prestar
depoimentos na comissão de inquérito à concessão de avales, não
compareceu à hora marcada para o efeito, mas nos casos anteriores, foram
apresentadas justificações “plausíveis”, que permitiram adiar a
convocatória para outra data.No caso de
Vitoriano Falcão, a comissão de inquérito vai remeter o caso para o
Ministério Público, mas não decidiu ainda se vai requerer uma nova
audição do presidente da Unileite, ou se prescinde definitivamente da
sua presença.