Comissão de inquérito à rede de cuidados continuados não cumpriu objetivos
25 de jul. de 2019, 16:47
— Lusa/AO online
“Nós
tínhamos o objetivo de apurar a verdade e de tranquilizar os açorianos.
Não podemos ter um relatório fidedigno e real, quando tentamos ao longo
destes nove meses visitar instituições e não conseguimos; quando
tentamos ter acesso a documentação, de forma a preparar melhor as
audiências e interrogatórios a intervenientes chave neste processo, e
não conseguimos”, adiantou a deputada social-democrata Mónica Seidi, em
conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.O
PSD/Açores propôs a criação de uma comissão de inquérito parlamentar
para apurar alegadas falhas na prestação de cuidados a idosos na Rede
Regional de Cuidados Continuados Integrados, na sequência de reportagens
da TVI que denunciavam maus-tratos, em julho de 2018.A
comissão foi criada em setembro desse ano e na sexta-feira passada foi
aprovado o relatório final, com os votos favoráveis de PS, BE e CDS e os
votos contra dos deputados do PSD.“Penso
que, do ponto de vista prático, a comissão falha os dois grandes
objetivos e, portanto, o PSD, como partido proponente, não se pode
associar e votar favoravelmente o relatório, que na prática não traduz o
que se passou ao longo destes nove meses”, justificou Mónica Seidi.A
vice-presidente da bancada parlamentar do PSD considerou, por outro
lado, que o trabalho da comissão foi marcado por “condicionalismos
legais”, não assumidos de forma clara no relatório, e por falta de
tempo.Mónica Seidi lembrou que o PSD
propôs, em maio, “a suspensão dos trabalhos” até que os intervenientes
no processo deixassem de estar condicionados pelo segredo de justiça e
que o PS, que concordou com a proposta em comissão, acabou por “alterar o
sentido de voto” em plenário, chumbando a suspensão. A
comissão reuniu-se 22 vezes, mas, segundo a deputada social-democrata,
ficaram por visitar as unidades de cuidados continuados das ilhas de
Santa Maria, Graciosa, São Jorge, Pico e Flores.“Esta
comissão trabalhou muito nos meses de fevereiro e março, nos outros
meses esta comissão trabalhou de forma esporádica. Não houve um trabalho
contínuo, que nos pudesse [fazer] não perder o fio à meada e chegar ao
final com outro tipo de segurança ou com outras conclusões”, salientou.Apesar
de admitir que o relatório tem recomendações que poderão ser
“mais-valias” para a rede de cuidados continuados, Mónica Seidi lamentou
que o PS tenha aprovado apenas uma das 22 propostas de alteração ao
documento e uma das cinco recomendações sugeridas pelo PSD.“Não
compreendemos como é possível que o PS não acolha a recomendação deste
grupo parlamentar no sentido de recomendar ao Governo Regional que
proceda a uma maior disponibilização de vagas na valência de lar”,
salientou, alegando que há utentes que chegam a aguardar “um mês” por
uma vaga disponível, após a alta da rede de cuidados continuados.A vice-presidente da bancada social-democrata no parlamento açoriano disse ainda que ficaram por apurar responsabilidades.“Não
nos parece sensato que a tutela tenha conhecimento destas denúncias em
2016, que a secretária que tutela a Solidariedade Social não tenha
informado o presidente do Governo Regional, face à gravidade da
situação, e que só em julho de 2018, quando a situação foi tornada
pública, os secretários da Saúde e da Solidariedade Social tenham
decidido ter ações mais incisivas sobre o tema”, frisou.