Comerciantes dizem que encerramento de ruas afastou clientes da baixa de Ponta Delgada
16 de dez. de 2021, 18:29
— Lusa/AO Online
Quando a manhã
já caminhava para o fim, a praça principal de Ponta Delgada reuniu
centenas de crianças que entoaram cânticos de Natal com as Portas da
Cidade como pano de fundo.A
coordenadora da atividade, Manuela Ponte, explicou à Lusa que a Escola
Básica da Matriz decidiu juntar as 214 crianças da instituição, mais as
famílias, para realizar uma atividade de Natal “num espaço aberto”.“Natal
sem festa e sem crianças não é Natal. Nós só estamos aqui porque
tomamos a iniciativa de fazer a cantata e vir à cidade. Não foi ninguém
que nos convidou. Nós é que nos oferecemos”, assinalou.As
crianças encheram a praça central de Ponta Delgada, mas nas, restantes
ruas, o movimento era menor. Apesar de não existirem ruas desertas, a
afluência de pessoas era inferior à registada em anos anteriores à
pandemia da Covid-19.“As
vendas até a 08 de dezembro estavam muito bem. A partir de dia 09,
quando fecharam o centro histórico ao trânsito, isto caiu a pique. Senti
essa diferença. Posso provar essa diferença. Neste momento, estamos a
vender menos do que o ano passado, que foi um ano de pandemia”, afirmou à
Lusa Sónia Sousa, gerente da sapataria Elegantastral.A 03 de dezembro, foi anunciado que, de 09 de dezembro até 02 de janeiro
de 2022, a circulação automóvel estaria interditada em várias ruas do
centro histórico de Ponta Delgada, tendo sido disponibilizados três
autocarros gratuitos para fazer a ligação, aos sábados, entre os parques
de estacionamento e o centro da maior cidade açoriana.Na
sequência dessa decisão, um grupo de 50 comerciantes do centro de Ponta
Delgada entregou à Câmara Municipal um abaixo-assinado a pedir a
“reabertura imediata” das ruas encerradas ao trânsito no período
festivo.“Este
ano, que a pandemia estava mais ou menos controlada, a Câmara Municipal
é que nos está a complicar a vida. Já deviam ter voltado atrás. Isso
não é altura para fazer experiências. Esta experiência quem a vai pagar
são os comerciantes”, acrescentou Sónia Sousa.Em
frente à sapataria, um dos responsáveis da loja de roupa masculina
Londrina, Tiago Sá, registou que as “vendas estão a correr bem”, mas
disse ter a perceção de que o negócio estaria “ainda melhor” caso as
ruas estivessem abertas à circulação automóvel.“Com
as ruas fechadas, supostamente era para trazer mais gente e mais
pessoas, mas não é isso que se reflete. Nós aqui temos muitas horas
mortas e menos agitação do que antes. Vê-se menos gente”, apontou Tiago
Sá.A
passear pela ‘baixa’ da cidade com vários sacos, Flávia Ferreira disse
ser uma “tradição” fazer as compras no comércio tradicional e defendeu a
medida implementada pelo município.“Acho
muito bem fecharem ao trânsito porque assim as pessoas podem circular à
vontade e têm mais espaço. As pessoas ficam mais à vontade para passear
e ver as montras”, apontou.Também
Natália Farias, que decidiu fazer compras no centro da cidade porque é
“mais seguro” e “ao ar livre” devido à Covid-19, concordou com o
encerramento das ruas ao trânsito, “desde de que seja apenas nesta
altura do Natal”.A
empresária Fernanda Ferreira, da Loja Imprevisível, dedicada ao
vestuário feminino, afirmou que o fecho ao trânsito provocou uma
diminuição das vendas e mostrou-se com “esperança” de que a Câmara
Municipal “volte atrás na decisão”.“As
vendas desde o dia 08 de dezembro diminuíram. Sinto mesmo essa
diferença: as ruas vazias e as vendas caíram. A medida de fechar as ruas
foi negativa. Isso vai ter um fecho muito triste”, apontou.Também
Ana Medeiros, da Mondo Bambino, que comercializa brinquedos,
considerou necessário arranjar “mais atrativos e mais animação” porque a
“cidade está mais vazia”.“Não
estamos mal em termos de negócio, não. Mas nesta altura tínhamos a loja
cheia, mal respirávamos. Notamos a cidade mais vazia e houve uma
diferença após o fecho do trânsito. Sentimos essa diferença, mas podia
ser pior”, declarou.Renato
Moniz, da Loja Rosa Nicole Decorações, disse que o “negócio está muito
melhor do que no ano passado, mas muito inferior do que há dois anos” e
considerou “urgente” resolver o “problema de estacionamento” do centro
da cidade.“Notam-se
menos pessoas a circular. É o eterno problema de Ponta Delgada: o
comércio do centro histórico tem de ter uma outra atenção das entidades
governamentais quanto ao estacionamento. Fecharam-se ruas, mas não se
criaram novos estacionamentos”, assinalou.Ainda
assim, o empresário definiu como “maior problema” os “transportes” de
mercadorias, revelando que tem “40 caixas de Natal em trânsito” para
chegar à ilha.O
gerente da Taberna Açor, Pedro Raposo, mostrou-se confiante para esta
quadra festiva, uma vez que tem “muitas reservas” e “jantares de
empresas”. O empresário defendeu também o encerramento das ruas, que vai
permitir aumentar a esplanada do restaurante.“Acho
que vou ao contrário da maioria. Tenho pensado muito sobre isso. Acho
que vale a pena porque não existe o perigo do carro e as pessoas
circulam mais à vontade. As pessoas estão é à larga e sem carros, o que
parece ter menos gente”, afirmou.As
alterações ao trânsito também condicionaram a vida dos taxistas,
localizados na praça central da cidade. Tiago Gaudêncio, taxista há seis
anos, considerou a medida prejudicial para “toda a gente”.“Isso
está muito complicado para nós taxistas porque junta-se tudo na Avenida
[Marginal]. Vamos fazer um serviço e leva-se mais tempo para chegar
porque o trânsito não circula. Essas ruas que foram fechadas aliviavam o
trânsito da Avenida. O trânsito aumentou e há menos gente na cidade”,
atirou.