Autor: Lusa/AO Online
Para além de falhas por parte do operador da rede elétrica espanhola a nível de gestão e planificação, houve também falhas na resposta de outros operadores e distribuidores de energia em Espanha, com suspeitas de incumprimento dos protocolos previstos para situações de sobrecarga de tensão, segundo a ministra da Transição Ecológica de Espanha, Sara Aagesen.
A ministra disse ainda que a comissão para investigar o apagão na Península Ibérica criada pelo Governo espanhol concluiu, por outro lado, que não houve qualquer ciberataque no dia 28 de abril, como o executivo espanhol já tinha adiantado anteriormente.
Sara Aagesen falava numa conferência de imprensa em Madrid, no final da reunião semanal do Conselho de Ministros de Espanha, em que apresentou as conclusões da comissão de investigação ao apagão de 28 de abril criada pelo Governo espanhol.
Segundo a ministra, que vai hoje à noite reunir-se em Lisboa com a homóloga portuguesa, Maria da Graça Carvalho, houve na manhã do apagão – que ocorreu às 11:33 de 28 de abril, hora de Portugal Continental - e também nos dias anteriores, uma série de oscilações no sistema de geração de eletricidade de Espanha e foram ativados os protocolos e medidas habituais para responder a esses fenómenos por parte da empresa Red Eléctrica (REE), a operada da rede espanhola.
Estas medidas para responder às oscilações - que passam por "malhar a rede" ou reduzir a exportação de eletricidade para a fora da Península, para França, por exemplo - provocam, no entanto, também elas, um aumento da carga de tensão, e a resposta exige também, por isso, medidas para o controlo da sobrecarga.
No entanto, sempre segundo a ministra, a programação e previsão da Red Eléctrica não foi suficiente e houve "má planificação".
E houve, em paralelo, atuações "indevidas" de outras empresas, uma vez que centrais de "geração síncrona" (ciclos combinado, nucleares ou hidráulicas) solicitadas a operar pela Red Elétrica não estavam a absorver a tensão como deviam.
Por outro lado, acrescentou a ministra espanhola, a investigação concluiu que houve centrais de produção que se desligaram de forma também indevida, quando não o deveriam ter feito ao abrigo dos protocolos e normas em vigor, em desconexões que não podiam ser a resposta normal e automática perante um cenário de sobrecarga de tensão.
"Os grupos de geração que tinham de ter controlado a tensão e que, além disso, muitos eles, estavam a ser retribuídos economicamente para isso, não absorveram toda a [energia] reativa que se esperava num contexto de elevadas tensões", afirmou Sara Aagesen, que explicou que a desconexão de instalações provocou, também ela, ainda maior sobrecarga.
Segundo a ministra, todas as dez centrais programadas pela Red Elétrica para estar em operação e responder às oscilações e sobrecargas de tensão no sistema, "tiveram algum tipo de incumprimento" na absorção de energia reativa que lhe correspondia no dia do apagão.
"Faltava no sistema capacidade de regular a tensão", embora haja em Espanha "parque de geração suficiente para responder” a uma situação como a que ocorreu, disse Sara Aagesen.
Assim, como consequência desta sucessão de eventos e falhas, chegou-se, nos momentos antes do apagão, a "um ponto de não retorno, com uma reação em cadeia incontrolável", quando um "fenómeno de sobrecarga de tensão", muito elevada, levou a desconexões sucessivas das instalações de produção de eletricidade que provocaram, elas próprias, "novas desconexões", sintetizou a ministra.
As desconexões começaram em centrais do sul e sudoeste de Espanha, nomeadamente, Granada e Badajoz.
Segundo o Governo espanhol, todas as oscilações no sistema elétrico detetadas nos dias, horas e minutos anteriores ao apagão foram consideradas habituais e dentro de parâmetros normais, com exceção de uma, identificada numa instalação de geração no sudoeste de Espanha, às 12:03 de 28 de abril (11:03 em Lisboa).
De acordo com a ministra, foi uma oscilação "não típica ou conhecida", mas não deu mais detalhes e não confirmou as informações publicadas na imprensa espanhola nas últimas semanas de que se tratava de uma instalação de geração fotovoltaica.
Face às
conclusões e recomendações da comissão espanhola que investigou o
apagão, o Governo de Espanha vai aprovar na próxima semana legislação
para responder às falhas identificadas e prevenir novos casos
semelhantes, indicou ainda Sara Aagesen.