Combater violência contra as mulheres, crianças e idosos são prioridades
9 de jul. de 2020, 17:10
— Lusa/AO online
"A
violência doméstica contra cônjuge ou análogos conheceu um significativo
aumento de 10,6 % (22 423 casos em 2018 e 24 793 em 2019). O que
conjugado com o número de homicídios de mulheres ocorridos em 2019,
torna incontornável a necessidade de reforçar as respostas para prevenir
e combater a violência contra as mulheres e a violência doméstica, em
todas as suas dimensões", referiu Francisca Van Dunem.
A ministra apresentou no plenário da Assembleia da República a
proposta de lei do Governo sobre política criminal para o biénio
2020-2022, que define objetivos, prioridades e orientações para a
prevenção da criminalidade, bem como linhas de investigação criminal,
ação penal e execução de penas, tendo em conta o Relatório Anual de
Segurança Interna (RASI) de 2019. De
acordo com a proposta serão alvo de prioridade os mais vulneráveis, quer
pela sua condição específica (crianças e idosos), quer relativamente
aos crimes de que foram vítimas, designadamente violência doméstica ou
em contexto familiar e crimes contra a liberdade e autodeterminação
sexual. Num outro plano, onde entra, por
exemplo, a criminalidade económico-financeira e o tráfico de droga, é
dada especial atenção à recuperação de ativos, "enquanto política que
visa restituir à comunidade os bens, os valores e o património que foram
obtidos pelos autores dos ilícitos", reforçando a premissa de que o
crime não compensa. "Promove-se a missão
do Gabinete de Recuperação de Ativos e do Gabinete de Administração de
Bens, conferindo prioridade à identificação, localização e apreensão dos
bens ou produtos relacionados com os crimes, a nível interno e
internacional, e à adoção de medidas de gestão de molde a assegurar a
rápida afetação a utilidades públicas dos bens apreendidos em processo
penal, evitando a sua deterioração e perda de valor, ou a permitir a
respetiva venda", apontou a ministra.
Francisca Van Dunem falou ainda sobre a necessidade de um acompanhamento
mais próximo das necessidades da investigação criminal em matéria de
criminalidade económico-financeira, bem como de haver uma avaliação da
execução das leis de política criminal quanto às medidas adotados no
quadro da prevenção e repressão dos crimes económicos, incluindo a
corrupção. A lei de política criminal
contempla ainda um investimento adicional na reinserção e prevenção da
reincidência, com base em programas para jovens adultos, condenados por
crimes de violência doméstica, contra a liberdade e a autodeterminação
sexual, autores de incêndio rural e praticantes de crimes rodoviários.
A ministra salientou, por outro lado, que as circunstâncias específicas
do momento atual de pandemia "a incerteza quanto à sua perenidade"
justificam opções como "a prioridade acordada à investigação dos crimes
contra a autoridade pública cometidos em contexto de emergência
sanitária, ou de proteção civil e, bem assim, à criminalidade praticada
em ambiente de saúde". Em termos gerais,
Francisca Van Dunem indicou que Portugal continua a registar baixos
índices de criminalidade, observando que “aumentos pontuais face ao ano
anterior exigem cautela e prudência nas conclusões" a retirar.
"Em matéria de estatística criminal continuamos a lidar com números
baixos e realidades estatísticas pouco significativas, onde qualquer
oscilação nos números efetivos gera variações percentuais acentuadas,
que podem influenciar perceções e leituras erradas", precisou.
No ano de 2019 - recordou - foram registadas mais 2.391 participações
em sede de criminalidade geral e mais 417 participações relativas à
criminalidade violenta e grave, o que corresponde respetivamente a um
aumento de 0,7 % e de 3% face ao ano anterior.
O tipo de crime que registou o aumento mais significativo foi o de
burla informática e nas comunicações, que registou uma subida de 66,7 %
em relação ao ano anterior (9.783 participações em 2018 e 16.301 em
2019). "No âmbito da criminalidade
violenta e grave, os aumentos registados não correspondem a oscilações
acentuadas, muito embora as participações por crime de roubo em
edifícios comerciais e industriais tenham passado de 326 em 2018 para
423 em 2019, as participações por crime de rapto, sequestro e tomada de
reféns tenham aumentado de 273 em 2018 para 338 em 2019 e os de crime de
roubo na via pública sem esticão tenham aumentado de 5.296 em 2018 para
5.923 em 2019", completou a ministra.
Segundo a governante, a segurança rodoviária é uma prioridade que exige
continuado planeamento, coordenação, empenhamento de meios e capacidade
administrativa.Quanto ao tráfico de droga
assinalou que houve uma ligeira diminuição face ao ano anterior:
apreensão de haxixe (-6,1%), heroína (-48,6%) e ecstasy, (–82,5%) , mas
em contrapartida um aumento expressivo (75,2%) da apreensão de cocaína.
"Portugal continua a ser um país de trânsito, mas também de destino
final de vários tipos de substâncias estupefacientes para abastecimento
dos circuitos ilícitos internos", lembrou.