Autor: Lusa/AO Online
“O nosso papel deve ser atuar junto de todos aqueles que observam, testemunham e sabem o que acontece na escola e online. São eles que têm o poder de parar com essas ações” disse a psicóloga Susana Fonseca durante o seminário “Entre o real e o virtual – Segurança, dependências e dinâmicas familiares”, a decorrer na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa.
A professora foi uma das oradoras do painel sobre o impacto deste tipo de violência na vida dos jovens, em que se discutiu também formas de detetar indícios de bullying e estratégias de prevenção.
Para a docente do ISCTE, é preciso trabalhar competências de cidadania digital com os alunos, mas também é preciso olhar para lá dos muros das escolas: Susana Fonseca condenou, por exemplo, a divulgação de imagens de ‘bullying’ por parte dos ‘media’, considerando que nestes casos também a comunicação social se tornam “bully”.
Também a docente e psicóloga Sónia Seixas defendeu o combate do fenómeno através de campanhas junto dos jovens com "projetos que incluem os miúdos”.
“Ainda sinto nas escolas alguma confusão entre o que é o ‘bullying’ e o que são comportamentos mais violentos”, revelou a psicóloga, lembrando que o primeiro é um comportamento premeditado e repetitivo em que existe abuso por parte de alguém que domina outro alguém incapaz de se defender.
Para Sónia Seixas, o ‘ciberbullying’ é mais agressivo para as vítimas do que o bullying, porque “não conseguem escapar ao ciberbullying”, enquanto os ataques de ‘bullying’ ficam restritos ao tempo em que estão na escola, que pode terminar todos os dias às quatro ou cinco da tarde e não ocorre ao fim de semana: “No ciberbullying podem ser vítimas sete dias por semana durante 24 horas”.
Apesar dos novos perigos, os três especialistas do primeiro painel da manhã lembraram que durante muito tempo o ‘bullying’ existia nas escolas, mas ninguém o identificava como um problema.
“Antes eram sinalizados pelos nossos polícias sem grande preocupação”, recordou o intendente da PSP Hugo Guinote, também convidado para participar no painel, explicando que o assunto ganhou já uma atenção especial e hoje “cada caso é tratado como um caso individual, deixando de ser um fenómeno grupal”.
Hugo Guinote sublinhou a importância das parcerias entre as forças de segurança e as escolas, mas também a importância da promoção do diálogo nas escolas e nas famílias, “um hábito que se foi perdendo”.
“Esta é a chave para perceber melhor os problemas que existem em cada um dos elementos do agregado familiar. Havia anos em que não conseguíamos ir acompanhando o que preocupava as crianças e as crianças também desconheciam o que preocupava os pais”, acrescentou o responsável da PSP.
Seguiu-se um outro painel de especialistas que abordou a utilização problemática da internet, alertando para o impacto negativo no desenvolvimento e comportamento das crianças e jovens e a importância do controlo parental, das dinâmicas familiares e do papel das instituições na proteção dos mais jovens.
No último ano letivo, um dos temas que mais preocupou as equipas do Programa Escola Segura, da PSP, foi precisamente a utilização segura e responsável da internet e das redes sociais por parte dos jovens.
No discurso de abertura do seminário, o secretário de Estado Adjunto da Administração Interna, Paulo Simões Ribeiro, recordou algumas medidas do Governo, como a proibição do uso de smartphones nas escolas a todos os alunos até ao 6.º ano ou o plano para dar mais formação a professores e alunos sobre esta matéria.
Paulo Simões Ribeiro lembrou também o projeto para incentivar a denúncia de casos de ‘bullying’ com a criação de canais de denúncia que garantam a privacidade.