Climatologista diz que Açores não estão em situação extrema
30 de ago. de 2024, 14:21
— Lusa
“A afirmação de que estamos a passar por uma
situação de seca sem precedentes não é bem assim, na minha opinião.
Apesar do mês de agosto, sobretudo, ter-se uma anomalia bastante
significativa da precipitação, em termos negativos, em termos
hidrológicos não é, de maneira nenhuma, o pior ano de disponibilidades
hídricas”, declara à Lusa Brito de Azevedo. Os
Açores têm registado, em particular no mês de agosto, temperaturas
acima dos valores normais no verão, com máximas de 29 e 30 graus
Celsius, a par de baixos valores de precipitação.O
especialista e docente jubilado - gestor de projeto do Eastern North
Atlantic (ENA), Graciosa Island ARM Facility, do Departamento de Energia
dos Estados Unidos da América e do Laboratório Nacional de Los Alamos -
frisa que “o facto de se ter atravessado um período bastante alongado
de bom tempo, não significa que seja um período de seca extrema”.O
climatologista refere que, na generalidade das ilhas dos Açores, não há
problemas de carga hídrica, assegurada pelo inverno, para abastecimento
às populações.“Em termos agronómicos, o
mês de agosto foi, de facto, um mês com sinal negativo na precipitação
com implicações na agricultura, em particular nas forragens para o
gado”, afirma.De acordo com o especialista
em questões ambientais, este cenário deve-se “a uma persistência do
anticiclone dos Açores, bem localizado no Atlântico”, o que “tem
condicionado o estado do tempo”.Brito de
Azevedo refere que “a anomalia da temperatura do ar entre os 1,5 e 2,5
graus” deve-se “particularmente devido a uma outra anomalia, que é a
temperatura da água do mar à superfície, que foi, particularmente no fim
de julho e início de agosto, muito significativa e que deve preocupar
todos os setores que dependem da economia”.“Essa
anomalia da temperatura na superfície do mar é que dá, de facto, um
sinal mais preocupante. O Atlântico central aqueceu. Já em 2023, as
temperaturas à superfície foram as mais elevadas de sempre e, este ano,
prolongou-se esse aquecimento particularmente nos primeiros meses do
ano”, explica o especialista.Brito de
Azevedo salvaguarda que, “curiosamente, a partir de julho, há a
tendência de algum arrefecimento, muito embora se mantenha uma bolsa de
água quente nesta zona dos Açores, do Atlântico central, que fez
aumentar a temperatura do ar também".O
especialista refere que esta situação arrasta “alguma imprevisibilidade
em termos de futuro, particularmente porque o mar, deixando de regular a
temperatura do ar, como acontece na termorregulação, estando mais
quente, pode trazer alterações climáticas significativas” com impacto
nos ecossistemas marinhos e na composição da fauna e flora marinha.“Se
é uma situação para se manter ou não, é um aspeto que a climatologia
ainda não consegue responder”, refere o cientista, que ressalva que a
anomalia térmica “influencia a geração e trajeto das tempestades
tropicais”.Segundo Brito de Azevedo, em
inícios de agosto, tudo indicava que “seria uma época bastante
complicada em termos de tempestades tropicais, mas a partir de meados de
agosto houve um arrefecimento da temperatura da água do mar nas zonas
equatoriais, onde começam os furacões”.Quanto
às alterações climáticas, o especialista afirmou que “já se fazem
sentir” e que se vai “traduzir mais pela irregularidade climática”,
sendo que “a sazonalidade que os Açores estavam habituados tem-se vindo a
perder quer de inverno, quer de verão”.