Cirurgião pioneiro de transplante prevê futuro de órgãos geneticamente modificados
7 de out. de 2017, 11:16
— AOnline/LUSA
"Hoje já se faz clonagem e é possível um dia fazerem-se clonagens e a
modificação genética de células do fígado do próprio doente, e criar,
por vários métodos, um fígado que possa ser implementado a partir de um
animal", disse o médico, de 84 anos, à agência Lusa.Linhares Furtado liderou em 26 de outubro de 1992 a equipa que efetuou o primeiro transplante hepático com sucesso."O
que eu esperaria que nesta altura fosse uma realidade era a utilização
de fígados de animais", defende, explicando que o porco, "por
variadíssimas razões, foi o animal mais escolhido, por ser mais parecido
em certas condições com o fígado do ser humano".Em medicina,
sustentou, “estas coisas demoram muito tempo, porque a passagem de
experiências do animal para o homem requer muitas décadas e muito
cuidado".O antigo cirurgião fala em avanços técnicos muito
grandes nestes 25 anos, com critérios "muito mais apertados e resultados
que melhoraram muito"."As indicações para transplante estão
muito melhor definidas, há muita patologia hepática que transplantávamos
na altura e que reduziu o número de doentes e o aproveitamento de
órgãos de cadáveres é melhor", explicou."Na transplantação, hoje é
vulgar que centros que não arrisquem muito em doentes de alto risco
tenham resultados de 90% de sobrevida. Quando comecei, tínhamos uma
sobrevida de 78 a 80%, com muita mortalidade, pois transplantávamos
casos que hoje seriam oficialmente recusados", acrescentou.Linhares
Furtado foi também o primeiro cirurgião português a realizar o primeiro
transplante de órgão em Portugal, em 20 de julho de 1969, quando não
havia lei, tendo transplantado um rim de um dador vivo, da irmã do
doente.Sobre a atual lei da transplantação, o médico salientou
que se tratou de uma legislação "muito à frente no tempo", que motivou
também a criação dos centros de transplantação."Foi um passo muito grande e, é curioso, não foi muito discutido. Só este ano, em janeiro, é que a França o adotou", disse.A
lei de 1993, que começou a ser trabalhada em 1991, é inovadora, ao
aplicar o princípio da solidariedade presumida e ao criar o registo de
não dadores, para as pessoas que não desejam doar órgãos após a morte."Os
nossos indicadores de transplantação eram muito maus em 1991. Eram
péssimos e melhoraram bastante, quer na colheita de órgãos, em que
passámos a ser um dos melhores países a nível de colheita, quer na
transplantação, em que também somos - julgo que só superados pela
Espanha e por mais um ou outro país", salientou José Martins Nunes,
antigo secretário de Estado da Saúde, um dos responsáveis pela Lei da
Transplantação, aprovada, por unanimidade, na Assembleia da República,
em 1993.Para o presidente da secção Regional do Centro da Ordem
dos Médicos, a transplantação "é uma grande odisseia que nem só pode ser
considerada como um feito do ponto de vista técnico, científico e
médico”.“Mas também uma história de luta contra as adversidades
que todos conhecemos e continuamos a conhecer, obviamente num
enquadramento diferente, que são as insuficiências do Serviço Nacional
de Saúde".Em declarações à agência Lusa, Carlos Cortes lamenta
que Coimbra tenha muitas dificuldades em recursos humanos e apela ao
Ministério para que resolva "muito rapidamente este problema, já que foi
o responsável por muitas pessoas que necessitam de fígados fossem
desviados para outros centros de transplantação".