Cine Atlântico arranca na Terceira com sessão esgotada de "Variações"
30 de out. de 2019, 16:30
— Lusa/AO Online
“É
o filme português mais visto este ano e isso também ocorre na ilha
Terceira. O Cine-Clube da Ilha Terceira já tem a bilheteira para este
filme, a partir de reservas, totalmente esgotada. Estamos, neste
momento, a negociar com a NOS, distribuidora deste filme, a hipótese de
promovermos uma segunda sessão”, adiantou, em declarações à Lusa, o
presidente do cine-clube, Jorge Paulus Bruno.Ao
longo de quatro dias, serão exibidos na Sociedade Filarmónica de
Instrução e Recreio dos Artistas, em Angra do Heroísmo, oito filmes
portugueses, estreados em 2019, de estilos muito diversos. “Permite
abranger um leque mais variado de público. Não são só filmes de autor,
mais introspetivos, destinados apenas a cine-clubistas, mas que abrangem
um espetro maior de público”, salientou o responsável pela organização.Há
quatro anos, o Cine-clube da Ilha Terceira tentou angariar fundos para
organizar nos Açores um festival internacional com competição sobre mar,
ilhas, viagens e aventuras, mas como não o conseguiu decidiu avançar
com uma mostra de cinema português contemporâneo, em Angra do Heroísmo,
para recuperar o interesse pela produção nacional. Prestes
a inaugurar a quarta edição, Jorge Paulus Bruno considerou que a
insistência nos filmes portugueses tem dado frutos e já conseguiu
despertar a atenção do público da ilha Terceira.“Essa
adesão, que já está a começar, do público terceirense ao cinema
português, também decorre dessa insistência que o Cine-Clube da Ilha
Terceira tem vindo a fazer, que entendeu que era também uma missão sua,
de trazer aqui à ilha Terceira o melhor que se está a fazer a nível
nacional”, salientou.O Cine Atlântico
arranca esta quinta-feira, com o filme biográfico sobre o cantor António
Variações, interpretado no grande ecrã por Sérgio Praia, seguindo-se,
na sexta-feira, uma homenagem a Agustina Bessa-Luís, com a exibição do
filme "A Portuguesa", de Rita Azevedo Gomes, que contou com diálogos da
escritora, e uma conferência sobre a ligação de Agustina ao cinema, por
Carlos Natálio.“Agustina Bessa-Luís
escreveu textos para vários filmes, desde logo para Manoel de Oliveira
['Fanny Owen'/'Francisca', 'As Terras do Risco'/'O Convento', 'Vale
Abraão', 'Party', 'Visita ou Memórias e Confissões']. Havia uma
cumplicidade entre o realizador e a escritora. A exibição d’'A
Portuguesa' foi uma forma que o Cine-clube da Ilha Terceira encontrou
para homenagear essa grande figura da literatura portuguesa recentemente
falecida”, apontou Jorge Paulus Bruno.No
sábado, passam pela sala de cinema da Recreio dos Artistas os filmes
"Mar", de Margarida Gil, que retrata o drama dos refugiados e é
protagonizado por Maria de Medeiros, "Diamantino", de Gabriel Abrantes e
Daniel Shmidt, que venceu o grande prémio da semana da crítica do
Festival de Cinema de Cannes, e "Snu", de Patrícia Sequeira, sobre a
história de amor entre Snu Abecassis e o fundador do PPD/PSD, Francisco
Sá Carneiro.A mostra de cinema português
contemporâneo termina no domingo com "Linhas Tortas", primeira
longa-metragem de Rita Nunes, e "Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos",
filme de João Salaviza e Renée Nader Messora, sobre os indígenas
brasileiros krahô, que se estreou no Festival de Cannes, no ano passado.A
encerrar o Cine Atlântico será exibida a longa-metragem "A Herdade", de
Tiago Guedes, candidato português a uma nomeação para o óscar de melhor
filme estrangeiro em 2020 e vencedor do prémio Bisato d'Oro para melhor
realização, atribuído por um júri da crítica independente, no Festival
de Cinema de Veneza, onde teve estreia mundial.A
programação ficou a cargo do crítico e realizador de cinema José Vieira
Mendes e marcarão presença na ilha Terceira João Maia, realizador de
“Variações”, e Paulo Branco, produtor de “A Herdade”.“É
importante dar a conhecer a quem vem de fora o que é a nossa realidade,
a nossa ilha, a nossa cidade, quais são as motivações cinematográficas
do público terceirense e, por outro lado, para quem é da ilha Terceira e
vai aos filmes, é uma oportunidade de conversar com eles antes, depois
das sessões. É sempre importante vermos por detrás daquilo que está no
ecrã quem é o homem ou mulher que realiza e produz”, frisou Jorge Paulus
Bruno.O Cine-clube da Ilha Terceira
promete retomar a mostra de cinema português no próximo ano, mas ainda
não desistiu de estender o Cine Atlântico a um festival internacional
com competição. “Numa região arquipelágica
como esta, de pequenas ilhas rodeadas por mar, fará todo o sentido
fazer um festival internacional sobre esses temas: o mar, as ilhas, as
viagens, que são uma dominante na vida de um açoriano, e as aventuras,
que não ocorrem só nestes contextos arquipelágicos, mas que acontecem
necessariamente também aqui”, sustentou o presidente do cine-clube.