Cimeiras entre as Coreias estancaram escalada de ameaças de guerra nuclear
2018
17 de dez. de 2018, 20:00
— Lusa/AO Online
A
primeira cimeira do ano entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, em
abril de 2018, foi como o movimento de abertura num jogo de xadrez: os
observadores sentiram que a forma como ali se jogasse iria determinar o
resto de um complexo desafio psicológico num difícil tabuleiro político.No
final da guerra da Coreia (1950-1953), não foi assinado nenhum acordo,
pelo que as reuniões dos líderes das duas Coreias e 2018 foram o momento
inicial para tentar um tardio tratado de paz, que substituiria o
armistício que durava há 68 anos.Mas
quando o Presidente da República Popular Democrática da Coreia, Kim
Jung-un, se encontrou com o Presidente da República da Coreia, Moon
Jae-in, em Panmunjom, na primeira de três cimeiras que ocorreram em
2018, não era apenas a relação entre os dois países que estava em jogo;
também se discutia a possibilidade de uma aproximação entre a Coreia do
Norte e os Estados Unidos, após uma escalada de ameaças verbais entre
Kim e Donald Trump.A
possibilidade de uma guerra nuclear estava em cima da mesa e as
cimeiras tiveram o mérito de desarmar a escalada política e militar,
embora possa existir ainda uma diferença entre os acordos de paz e as
reais intenções dos países que jogam no tabuleiro da península coreana.A
segunda cimeira, em maio, foi curta (duas horas apenas) e decorreu em
território neutro, no pavilhão da unificação, tendo servido para uma boa
oportunidade fotográfica (com várias famílias divididas pela fronteira a
juntar-se para abraços de saudades) e para promessas de mais reuniões
“em qualquer altura, em qualquer lugar”.Poucas
semanas após a cimeira de maio, nos jogos do campeonato do mundo de
ténis de mesa, em Halmstad, na Suécia, os dirigentes desportivos da
Coreia do Norte e da Coreia do Sul reuniram-se e decidiram fundir as
duas equipas, nas partidas da fase final, perante a surpresa geral.A
decisão foi lida como a evidência do sucesso do encontro entre Kim
Jung-un e Moon Jae-in e apesar da derrota da equipa conjunta da Coreia
face ao Japão, a vitória diplomática entusiasmou a comunidade
internacional e alisou o terreno para a aguardada cimeira entre os EUA e
a Coreia do Norte.Em
12 de junho, pela primeira vez na história, o Presidente dos EUA
reuniu-se com o Presidente da Coreia do Norte, e conseguiram acertar uma
declaração conjunta, acordando relações de paz, a trasladação de corpos
de soldados americanos e a desnuclearização da península coreana.Durante
meses, Kim Jung-un tinha desafiado os EUA com testes nucleares
envolvendo mísseis de longo alcance que poderiam atingir território
norte-americano, a que Donald Trump respondia com frases inflamadas.“Temos
muita paciência, mas se formos forçados a nos defendermos e aos nossos
aliados, não teremos outra hipótese senão destruir totalmente a Coreia
do Norte”, tinha afirmado Donald Trump, nas Nações Unidas.As
cimeiras intercoreanas permitiram estancar a escalada de ameaças
militares e diplomáticas, para alívio da Coreia do Sul, que procurava
garantir a proteção dos EUA sem comprometer as suas relações com a
China.O
Presidente chinês, Xi Jinping, foi um observador atento da aproximação
entre as duas Coreias e vários analistas consideraram mesmo que foi o
principal beneficiário das cimeiras, que ajudou a preparar quando o
Presidente da Coreia do Norte visitou Pequim, em março de 2018 (o
primeiro encontro que Kim Jung-un tinha com um homólogo de qualquer
país).A
terceira cimeira, em setembro, terminaria com uma declaração conjunta
que apelava a entendimentos militares entre as duas Coreias, reforçando a
necessidade de desnuclearização da península e prometendo cooperação em
diversas áreas económicas.Por
essa altura, a oposição interna a Donald Trump criticava a falta de
cumprimento do acordo de desnuclearização por parte da Coreia do Norte,
denunciando mais testes com mísseis nucleares, enquanto a China pedia um
maior envolvimento de Donald Trump na pacificação real da península.Os
analistas dizem que as próximas cimeiras entre as Coreias serão mais
difíceis, pela constatação de que a Coreia do Norte não está a fazer
grandes progressos na desnuclearização, atravessa uma grave crise
financeira e colocará muitas objeções em negociar questões relacionadas
com Direitos Humanos.