Cientistas pedem atenção à transmissão aérea da Covid-19 e ventilação de espaços fechados
6 de jul. de 2020, 18:08
— Lusa/AO online
Até
agora, a OMS tem apontado como principal via de transmissão do novo
coronavírus as gotículas respiratórias expelidas quando alguém fala ou
tosse e que atingem outra pessoa, daí a necessidade de guardar uma
distância de segurança de dois metros.No
entanto, estudos feitos pelos signatários da carta dirigida à OMS e por
outros investigadores demonstram "para além de qualquer dúvida razoável"
que os vírus se libertam pela respiração, fala ou tosse em
microgotículas suficientemente pequenas para permanecer no ar e
constituir "um risco de exposição a distâncias superiores a um ou dois
metros de uma pessoa infetada".O problema,
dizem, é "especialmente grave" em ambientes interiores ou fechados,
especialmente os que "estão abarrotados e têm ventilação inadequada" em
relação ao número de ocupantes e aos períodos de exposição."Apelamos
à comunidade médica e às instituições internacionais e nacionais
responsáveis para que reconheçam o potencial da transmissão aérea da
covid-19", afirmam.A petição está
associada a um artigo científico chamado "é hora de abordar a
transmissão aérea da covid-19", cuja principal autora é Lidia Morawska,
do Laboratório Internacional de Qualidade do Ar e Saúde da Universidade
Tecnológica de Queensland, na Austrália.O
texto, publicado na revista Clinical Infectious Diseases, é apoiado por
239 cientistas, e nele se cita o exemplo de um restaurante chinês em que
houve contágio e se verificou, através de gravações das câmaras de
vigilância, que não houve contacto direto nem indireto entre a pessoa
infetada e aquelas que foram contagiadas.A
lavagem de mãos e o distanciamento físico são medidas apropriadas, mas
insuficientes para garantir proteção das microgotículas que transportam o
vírus e são espalhadas pelo ar pelas pessoas infetadas, consideram,
recomendando ventilação adequada e suficiente, com entrada de ar fresco
ou o mínimo de reutilização de ar, especialmente nos edifícios públicos,
locais de trabalho, escolas, hospitais e lares de idosos, evitando
"ajuntamentos, especialmente nos transportes ou edifícios públicos".É
possível, com ações como abrir portas ou janelas, aumentar "de forma
radical a taxa de fluxo de ar em muitos edifícios", afirmam na carta.Embora
reconheçam que "ainda não há consenso sobre a transmissão aérea" do
novo coronavírus, destacam que "há provas que apoiam de forma mais que
suficiente a aplicação do princípio da precaução"."As
pessoas podem pensar que estão completamente protegidas se seguirem as
recomendações atuais, mas, na verdade, são precisas intervenções
adicionais na transmissão por via aérea para reduzir ainda mais o risco
de infeção", referem.A pandemia de
covid-19 já provocou mais de 534 mil mortos e infetou mais de 11,47
milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito
pela agência francesa AFP.Em Portugal,
morreram 1.620 pessoas das 44.129 confirmadas como infetadas, de acordo
com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.