Cientistas identificam manuscrito cristão mais antigo do mundo
11 de jul. de 2019, 16:53
— Lusa/AO online
A carta, datada do ano 230
depois de Cristo, oferece informação sobre o mundo dos primeiros
cristãos do Império Romano e é mais antiga do que todos os testemunhos
documentais cristãos previamente conhecidos do Egipto-romano. O
texto inscrito em papiro revela que em princípios do século III os
cristãos já se encontravam longe das cidades do interior egípcio, onde
assumiram funções de liderança política e na sua vida quotidiana não se
distinguiam no ambiente pagão.Desta forma,
a informação põe em causa a ideia que normalmente associa os primeiros
cristãos do Império Romano a povos excêntricos e perseguidos. O
papiro, há mais de cem anos propriedade da Universidade de Basileia,
inclui uma carta de Arrianus enviada ao seu irmão Paulus e “destaca-se”,
segundo o comunicado da universidade, de outras cartas oriundas do
Egito greco-romano pela sua fórmula de saudação final: “Rezo para que
estejas bem, ´no Senhor´”, usando uma ortografia abreviada no final. “O
uso desta abreviatura, estamos a falar do chamado ´nomen sacrum´, não
deixa dúvidas sobre o sentimento cristão do autor”, disse Sabine
Huebner, professora de História Antiga da Universidade de Basileia.“Paulo
é um nome muito raro na altura e podemos deduzir que os pais
mencionados na carta já eram cristãos e que decidiram dar ao filho o
nome do apóstolo, 200 anos depois de Cristo”, explicou Huebner.A
carta proporciona também detalhes sobre as origens sociais desta
família cristã primitiva: os dois irmãos eram filhos jovens educados da
elite local, terratenentes e funcionários.“Não
é surpreendente que os primeiros cristãos também tenham participado na
vida quotidiana romana. E também usufruíram dos mesmos prazeres que os
seus concidadãos não cristãos”, afirmou à agência Efe Sebastian Ristow,
do Instituto Arqueológico da Universidade de Colonia (Alemanha).O
facto de apenas uma parte dos primeiros cristãos ter vivido de uma
forma “verdadeiramente ascética” está documentado, acrescentou.O papiro provém da povoação de Theadelphia (Egito) e pertence ao Heroninos, o maior arquivo de papiro da época romana.A
Universidade de Basileia foi uma das primeiras universidades de língua
alemã e a primeira na Suíça alemã a criar uma coleção de papiros
própria, no início do século XX.Na altura,
o estudo de textos em papiros era uma disciplina florescente e
esperava-se ganhar com ela informações sobre a evolução do cristianismo
primitivo.