Cientistas "exasperados" marcam manifestação para tentar evitar regresso à emigração
20 de out. de 2017, 18:36
— Lusa/AO online
“As
pessoas estão já exasperadas com todos estes atrasos. Há várias
situações de contratos que terminaram, quer de investigadores FCT, quer
de bolseiros pós-doutoramento, situações limite de pessoas com filhos e
com responsabilidades. Algumas pessoas estão já a ponderar, e têm até
bastante articulada, a questão de voltar para outros países de onde
voltaram ao abrigo do Programa Investigador FCT ou de bolsas de
pós-doutoramento. Existe este exaspero da parte dos docentes e
investigadores”, disse Gonçalo Velho, presidente do Sindicato Nacional
do Ensino Superior (SNESup). O sindicato que representa docentes e
investigadores do ensino superior é uma das instituições que convocou
para a próxima semana, no dia 25 de outubro, pelas 17:00, uma
manifestação frente ao Ministério da Educação, onde decorre a Comissão
de Avaliação Bipartida de Ciência Tecnologia e Ensino Superior. Gonçalo
Velho critica os atrasos na aplicação da lei do emprego científico e na
integração dos precários no Estado ao abrigo do programa criado para
esse efeito (PREVPAP), acusando os dirigentes de universidades e
instituições de criarem “impedimentos” à vinculação de cerca de 5.000
pessoas no que diz respeito ao emprego científico e de 2.500 no que diz
respeito ao programa dos precários. “Articulando diversos
movimentos, que neste momento mostram a mesma preocupação, decidiu-se
marcar esta concentração numa altura decisiva. Estamos na discussão do
Orçamento do Estado. Parece que há tudo para avançar, mas todos os
dirigentes têm manifestado uma enorme resistência a que todo este
processo finalmente se efetive”, disse. O sindicato quer que “se
aplique a lei e que não haja mais atrasos”, até para evitar a
concretização de um cenário que se afigura como cada vez mais provável
para muitos investigadores: a emigração.Teresa Summavielle, que
representa a partir do Porto os investigadores FCT, o programa da
Fundação para a Ciência e Tecnologia que atribuiu bolsas por um período
de cinco anos e que motivou o regresso a Portugal de muitos doutorados,
diz que não foram apresentadas até ao momento “alternativas viáveis”
para estes investigadores que terminam os seus contratos no início do
próximo ano e que, sem perspetivas de continuidade, procuram já emprego
no estrangeiro. “Se não tiverem oportunidade de concorrer pelo
menos a um novo contrato muito brevemente terão que procurar emprego
fora do país, como já aconteceu no passado. Sendo que muitos regressaram
atraídos por este programa. É grave”, disse. Teresa Summavielle
critica que os investigadores tenham sido “apanhados no meio de uma
guerra surda” entre o ministro da Ciência, Manuel Heitor, e os reitores
das universidades, com o primeiro a defender que devem ser as
instituições de ensino superior a contratar os investigadores e com os
segundos a afirmar que só têm interesse em contratar docentes.A
investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde disse à
Lusa que as expectativas são de que, pelo menos, 100 investigadores do
Porto se desloquem a Lisboa para participar na manifestação. Já Gonçalo Velho disse que “as perspetivas são muito boas” para a concentração de dia 25. “Todo
o nosso feedback é que irá ser efetivamente um grande momento de
contestação em relação essencialmente aos impedimentos que os dirigentes
têm criado”, disse.