Cientistas estudam novos planos de emergência para proteger populações
Incêndios
8 de ago. de 2022, 10:23
— Lusa/AO Online
O projeto
“Evacuar Floresta – Decisões e Planos de Evacuação em Cenários de
Incêndio Florestal”, em curso na Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra (FCTUC), conta com a colaboração da Escola
Nacional de Bombeiros (ENB) e do Centro de Inovação e Competências da
Floresta (SERQ) e pretende “estudar novos planos de emergência para as
comunidades, considerando os mais diversos cenários”.Citada
em nota de imprensa enviada hoje à agência Lusa, Aldina Santiago,
coordenadora do estudo e docente da FCTUC, explicou que o projeto tem
como objetivo principal criar um sistema de apoio à tomada de decisão
por parte das entidades competentes “para a proteção da comunidade em
risco em caso de incêndio rural e ainda mitigar problemas no contexto de
uma evacuação”. “Para os incêndios
urbanos já existem planos de evacuação desenvolvidos, mas o mesmo não
acontece nos incêndios florestais”, enfatizou Aldina Santiago. Atualmente,
sustentou a investigadora da UC, aquilo que existe como suporte à
tomada de decisão “é muito reduzido em termos técnicos e científicos e
depende em muito da sensibilidade do comandante no teatro das
operações”. “Muitas das vezes, esta
escolha é criticada, ou porque é feita de forma muito antecipada ou
porque é feita de forma tardia”, argumentou Aldina Santiago. Contando
com cerca de 270 mil euros de financiamento da Fundação para a Ciência e
a Tecnologia, o projeto visa “apoiar as entidades governamentais e
locais na proteção das pessoas envolvidas, criando indicações
específicas sobre a forma e mecanismos a utilizar para proteger e tornar
mais resiliente cada uma das comunidades, face às suas particularidades
e desenvolvimento do incêndio”. A
proteção das pessoas de uma determinada comunidade tem de ser pensada e
discutida muito antes dos incêndios; as possíveis soluções têm de estar
acauteladas através de planos de emergência e evacuação; a evacuação
parcial ou, em casos extremos, total, é uma dessas soluções, mas não é a
única”, defendeu Aldina Santiago. A
primeira fase do projeto – iniciada no verão de 2021 e se estende até
2023 - foca-se “na caracterização e estudo do que já existe, no que
respeita a estratégias associadas à proteção das pessoas em cenário de
incêndio rural”, não só em Portugal, mas também em Espanha, Itália,
Grécia, Austrália e EUA (Califórnia). A
investigadora indicou que os cientistas observaram que “se antigamente a
política era ‘ficar em casa e esperar’, atualmente começa a optar-se
por evacuações preventivas”. “Portugal
começa também a seguir esta estratégia, ou seja, nos últimos anos, a
estratégia de proteção tem vindo a alterar, em resultado do paradigma
dos incêndios atuais (incêndios de grandes proporções e que facilmente
se propagam à interface urbano-florestal”, acrescentou. Por
outro lado, a equipa de investigadores tem efetuado trabalho no
terreno, junto de comunidades nos municípios da Lousã (Coimbra) e Sertã
(Castelo Branco), escolhas que “não foram aleatórias, foram consideradas
as suas especificidades”, disse. Dando o
exemplo do concelho da Lousã, Aldina Santiago revelou que foram
escolhidas as localidades de Cerdeira e Cabanões, esta uma aldeia
“isolada, de difícil acesso, com uma população reduzida (menos de 25
pessoas), envelhecida e com algumas limitações de mobilidade”. A
povoação, que dista sensivelmente um quilómetro (km) da Estrada
Nacional 342 (via de ligação entre a Lousã e Góis, e de onde parte uma
única rua que termina na aldeia), chegou a ser evacuada aquando dos
incêndios de outubro de 2017. Já Cerdeira,
que faz parte da rede de Aldeias do Xisto e se localiza na Serra da
Lousã, a cerca de 1,5 km da Estrada Nacional 236, de ligação a
Castanheira de Pera e à sede do município, “é uma localidade com
componente turística significativa, com uma população muito variável,
tanto ao longo da semana, como ao longo do ano”. “É
difícil saber quantas e onde as pessoas estão nesta localidade e na sua
envolvente; esta incerteza é sem dúvida um dos fatores que dificulta a
proteção destas pessoas em caso de incêndio”, sublinhou Aldina Santiago.
Em paralelo, os cientistas estão a
trabalhar em modelos “que permitem simular a propagação do incêndio e a
evacuação das pessoas”, recorrendo a métodos numéricos avançados“Esperamos
vir brevemente a simular os incêndios ocorridos nas últimas semanas em
Portugal. Cruzando resultados, conseguimos estudar o impacto de
possíveis soluções, possíveis alternativas para proteção”, esclareceu
Aldina Santiago.A investigadora notou que
os sistemas de modelação e simulação de evacuação “são ferramentas
essenciais para planeamento e tomada de decisão”. “Durante
a evacuação e o incêndio, o comportamento das pessoas também é um fator
determinante (…) sendo a educação da população para esta temática
igualmente determinante para o sucesso deste processo”, frisou.