Cientistas criam células para tratamento da doença de Machado-Joseph
23 de abr. de 2024, 10:28
— Lusa/AO Online
A
Universidade de Coimbra referiu que esta investigação abre caminho para
o desenvolvimento de células que possam vir a ser usadas no tratamento
desta doença neurodegenerativa que afeta, nomeadamente, os movimentos e a
articulação verbal, e que tem grande incidência em Portugal.A
líder do estudo, Liliana Mendonça, explicou que a descoberta feita pela
equipa de investigação demonstra a viabilidade da aplicação de terapias
personalizadas a pessoas portadoras desta doença, através da criação de
células estaminais dos doentes que se pretendem tratar.Isto
irá traduzir-se numa maior aceitação do transplante, frisou a
investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da
Universidade de Coimbra (CNC-UC) e do Centro de Inovação em Biomedicina e
Biotecnologia (CIBB).Consideradas muito
versáteis, as células estaminais permitem dar origem a células
especializadas de vários tecidos e órgãos do corpo humano.A
doença de Machado-Joseph ainda não tem tratamento. O cerebelo é uma das
regiões do cérebro mais afetadas, levando a extensa morte neuronal,
dificuldades de coordenação motora, de deglutição e de articulação do
discurso.“Tem uma grande prevalência nos
Açores, especialmente na ilha das Flores, que regista a maior incidência
da doença a nível mundial”, contou a investigadora.A
equipa de investigação criou células que demonstraram ter capacidade de
originar neurónios em culturas celulares (conjunto de técnicas para
testar o comportamento de células num ambiente artificial) e também em
organóides cerebrais (tecidos gerados ‘in vitro’, ou seja, fora de
organismos vivos).Segundo Liliana
Mendonça, simultaneamente, os investigadores observaram que as células
estaminais humanas sobreviveram até seis meses após transplante no
cerebelo do modelo animal, tendo-se diferenciado em células da glia
(células do sistema nervoso central que desempenham diversas funções) e
neurónios, o que significa que revelaram ter potencial para atuar
positivamente no controlo de doenças neurodegenerativas.“Existe
uma elevada necessidade de desenvolver estratégias terapêuticas que
possam tratar doenças neurodegenerativas, que, de forma robusta,
melhorem a qualidade de vida dos doentes, contribuindo, assim, para
reduzir os encargos de saúde dos sistemas de saúde e das famílias destes
doentes”, alertou. Este trabalho, que foi
desenvolvido pela equipa do Grupo de Investigação de Terapias Génicas e
Estaminais para o Cérebro do CNC-UC, encontra-se a ser aprofundado.Um
dos objetivos é estudar de que forma é que estas células conseguem
melhorar os problemas de coordenação motora da doença, com recurso a um
modelo animal.A coordenadora da
investigação avançou que os cientistas vão também desenvolver
estratégias para melhorar a migração das células e, seguidamente, a sua
diferenciação em neurónios cerebelares, após o seu transplante para o
cérebro, algo que pode aumentar significativamente os efeitos
terapêuticos destas células.