China destina 780 mil ME para sanear “dívida oculta” das administrações locais
8 de nov. de 2024, 12:34
— Lusa/AO Online
O projeto de lei, proposto
pelo Conselho de Estado (Executivo), visa permitir o aumento dos limites
de endividamento dos governos locais, como forma de “substituir as
dívidas ocultas existentes”, contraídas através de canais de
financiamento informais conhecidos como “veículos financeiros da
administração local” (LGFV).O anúncio foi
feito na sequência de uma reunião do Comité Permanente da Assembleia
Popular Nacional (APN), o órgão máximo legislativo da China, e surge
quase um mês depois de o ministro das Finanças, Lan Fo'an, ter falado do
plano de conversão.Um dos problemas
económicos que o país enfrenta é o da “dívida oculta” das administrações
locais e regionais, que observadores estimam ultrapassar o equivalente a
8,5 biliões de euros.A baixa procura
interna e internacional, riscos de deflação e uma prolongada crise
imobiliária são outras das razões apontadas pelos analistas para
explicar o abrandamento da segunda maior economia do mundo.O
ministro das Finanças disse que esta “dívida oculta” dos governos
locais ascendia a cerca de 14,3 biliões de yuan (1,85 biliões de euros)
no final de 2023, e que a iniciativa hoje anunciada vai reduzir esse
valor para cerca de 2,3 biliões de yuan (297,92 mil milhões de euros),
até 2028.No entanto, as estimativas do
Fundo Monetário Internacional apontam para uma “dívida oculta” acumulada
através dos LGFV de cerca de 66 biliões de yuan (8,5 biliões de euros),
o dobro do valor registado em 2017.Alicia
Garcia Herrero, economista-chefe do banco de investimento francês
Natixis, avaliou recentemente a dívida acumulada pelos LGFV em cerca de
39,7 biliões de yuan (5,1 biliões de euros).Pequim
está focada neste problema há anos: em 2018, apelou aos governos locais
para que deixassem de acumular passivos através dos LGFV, entidades
semipúblicas que foram criadas para contornar as restrições no acesso ao
crédito e se espalharam pela China após a crise financeira de 2008.“Manteremos
uma postura de tolerância zero e investigaremos e puniremos quaisquer
novas dívidas ocultas que descobrirmos”, avisou Lan hoje, chamando à
proibição de acumular mais passivos deste tipo uma ‘regra de ferro’.O
valor final do plano está em linha com as previsões da maioria dos
analistas, embora estes também antecipassem o anúncio de mais 4 biliões
de yuan (518,353 mil milhões de euros) em obrigações especiais para
comprar terrenos não construídos ou imóveis não vendidos, visando
estimular o setor imobiliário, que está atolado numa crise prolongada, e
um plano de recapitalização para os grandes bancos estatais.No
entanto, a ordem de trabalhos do Comité Permanente da APN incluiu
apenas uma menção ao plano de conversão da dívida, e a convocatória para
a conferência de imprensa de hoje também se centrava apenas nessa
iniciativa, sem qualquer menção a outros possíveis anúncios de estímulo
orçamental.“O impacto fiscal direto será
mínimo, uma vez que a dívida total não se alterará com a sua
reestruturação. O benefício virá indiretamente dos pagamentos de juros
mais baixos no futuro e, consequentemente, dos encargos mais baixos para
as administrações locais”, observou Alicia Garcia Herrero.