Chegadas à Europa diminuíram em 2020, mas mortes nas travessias subiram
Migrações
26 de mar. de 2021, 16:49
— Lusa/AO Online
Segundo
a agência que integra o sistema das Nações Unidas, o número de
migrantes e de requerentes de asilo que chegaram à Europa em 2020 é o
mais baixo da última década, mas a morte e o desaparecimento de pessoas
nas várias rotas marítimas migratórias continuam a ocorrer em níveis
“assustadoramente altos”. Num relatório
publicado, a OIM, que reúne estes dados através do projeto "Missing
Migrants", especifica que o número de mortes e de desaparecimentos
verificado no ano passado é maior em relação a 2019, ano em que foram
registadas 2.095 vítimas, e um pouco menor em comparação a 2018, que
observou 2.344 vítimas.Já em relação ao
ano corrente, o projeto "Missing Migrants" já documentou, até à data,
300 migrantes mortos ou dados como desaparecidos em alto mar.A
organização lembra ainda que muitos corpos de vítimas não são
recuperados e identificados, indicando, por exemplo, que os restos
mortais de pelo menos 14 mil pessoas continuam desaparecidos no mar
Mediterrâneo.No relatório, a OIM aponta
que entre as 93.000 pessoas que entraram de forma irregular na Europa no
ano passado, cerca de 92% o fez por via marítima, nomeadamente através
das três grandes rotas migratórias do Mediterrâneo: Mediterrâneo
Oriental (da Turquia para a Grécia), Mediterrâneo Central (da Líbia para
Itália e Malta) e Mediterrâneo Ocidental (de Marrocos para Espanha).Mas
as chegadas também foram feitas através do oceano Atlântico pela rota
da África Ocidental em direção às Canárias, arquipélago espanhol situado
ao largo da costa noroeste africana.Estas travessias são feitas muitas vezes em embarcações precárias e inadequadas para tal propósito.Sobre
o caso específico das Ilhas Canárias, consideradas como parte do espaço
Schengen (espaço europeu de livre circulação), as chegadas de migrantes
aumentaram em 750% no ano passado, na sequência de controlos mais
rígidos nas fronteiras e de interceções no Mediterrâneo por países do
norte de África, segundo refere o relatório da OIM.Ainda
sobre as Canárias, a agência liderada pelo português António Vitorino
destaca que pelo menos 849 vítimas mortais foram verificadas nesta rota,
um valor mais de quatro vezes superior em comparação a anos anteriores.Entre as rotas do Mediterrâneo, a Central (da Líbia para Itália e Malta) foi a mais letal no ano passado, com 984 mortes.A
OIM alerta, no entanto, que estes números podem ser ainda mais
elevados, uma vez que várias dezenas de embarcações que tentam fazer
estas travessias não são detetadas por radares e muitas delas acabam por
desaparecer e naufragar sem registo de sobreviventes, casos que são
conhecidos como "embarcações fantasmas" ou "naufrágios invisíveis".Em
2020, ocorreram pelo menos 19 casos de “naufrágios invisíveis” no
Atlântico e no Mediterrâneo, com 571 pessoas dadas como desaparecidas,
segundo os dados da OIM.O relatório frisa
que “estes casos são extremamente difíceis de detetar, quanto mais
verificar” e são “mais uma indicação de que o número real de mortes em
rotas marítimas para a Europa é muito maior do que o indicado pelos
dados disponíveis".“Ninguém deveria ter de
arriscar a vida para fugir da violência ou da instabilidade, ou
simplesmente para procurar uma vida melhor", disse Frank Laczko, diretor
do Centro Global de Análise de Dados sobre Migração da OIM (GMDAC) em
Berlim, citado num comunicado divulgado pela agência da ONU."Será
importante nas atuais discussões entre a União Europeia (UE) e os
países africanos dar prioridade a uma ação concertada para salvar vidas e
acabar com esta crise de mortes em curso”, acrescentou Laczko.Desde 2014, os dados disponíveis apontam que mais de 22 mil pessoas terão morrido nas várias rotas marítimas migratórias.