Chega vai apresentar moção de rejeição do programa
Governo
5 de abr. de 2022, 16:52
— Lusa/AO Online
Em conferência de
imprensa na sede nacional do Chega, em Lisboa, André Ventura considerou
haver uma “gritante inadaptação” do programa do Governo às consequências
provocadas pela guerra na Ucrânia. “Esta
gritante inadaptação, altivez, e arrogância do Governo, levarão o Chega a
apresentar no parlamento uma moção de rejeição ao programa
apresentado”, anunciou André Ventura.O
líder do Chega qualificou o documento do executivo como “o programa mais
vago dos últimos 25 anos, em que não se consegue, ou é difícil
escrutinar, uma medida que seja concreta”. “Digitalização,
modernização, abertura, recuperação pós-covid: conceitos vagos e
indeterminados que não permitem o escrutínio por parte deste parlamento
do programa do Governo. Não é esse o sentido da lei nem da Constituição,
quando obrigam o Governo a apresentar um programa de governação na
Assembleia imediatamente após tomar posse”, frisou.Qualificando
o documento do executivo como “propaganda eleitoral”, Ventura
considerou ainda que “quer o programa de Governo, quer a orgânica de
Governo que foi apresentado ao senhor Presidente da República, esquecem a
economia, a produção e esquecem o turismo, áreas que são fundamentais
para a recuperação e desenvolvimento, áreas que são fundamentais para a
recuperação económica pós-covid”. “Este
programa de Governo tudo ignora, sem sequer recentrar as prioridades na
recuperação de setores estratégicos, afetados precisamente por uma
guerra na Europa que o próprio primeiro-ministro e Presidente da
República dizem que pode ser longa. (…) Parece incrível que um programa
não se redirecione precisamente para onde se situam esses problemas”,
frisou. Reconhecendo que, dada a maioria
absoluta do PS, a sua moção de rejeição terá sobretudo um “caráter
simbólico”, Ventura salientou, no entanto, que visa mostrar aos
portugueses que o partido não "pactuará" com o executivo, tendo também
“um objetivo político claro”: “clarificar as posições que a Iniciativa
Liberal e o PSD vão ter ao longo da próxima legislatura”. O
líder do Chega frisou que a moção de rejeição serve para “reposicionar a
direita e a oposição” e para se ter a “noção perfeita e clara de quem
se situa na oposição do PS e quem está disposto a apoiar este Governo do
PS”. “Este programa de Governo é
completamente oposto aquilo que PSD, Chega e Iniciativa Liberal, de
formas diferenciadas, propuseram nos seus programas. Será importante
perceber como é que poderão votar PSD e Iniciativa Liberal face à moção
de rejeição apresentada pelo Chega”, indicou. Dirigindo-se
ainda diretamente ao PSD, Ventura alegou que votar contra a moção do
rejeição do Chega significa “viabilizar este programa de Governo”. “Portanto,
se o PSD votar contra a nossa moção se rejeição (…) não pode daqui a
três meses ou quatro vir criticar a governação socialista dizendo que
não sabia o que esperava. Sabia exatamente o que era e, aliás,
viabilizou”, frisou. Ventura reconheceu a
"falha pessoal" de não ter avisado previamente o PSD e a IL de que iria
apresentar a moção, mas disse que o iria fazer ainda durante a tarde de
hoje.O programa do XXIII Governo Constitucional será apresentado e debatido esta quinta e sexta-feira na Assembleia da República. Para
que uma moção de rejeição ao programa do Governo seja aprovada, é
necessária uma “maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções”, ou seja 116 deputados, de acordo com a Constituição da
República. De acordo com o artigo 195.º da Constituição, a rejeição do programa governamental implica a demissão do Governo.Na
história da democracia portuguesa, foram aprovadas por duas vezes, com
maioria absoluta, rejeições a programas governamentais, levando à queda
do executivo: em novembro de 1978, com o III Governo Constitucional – de
iniciativa presidencial e chefiado por Alfredo Nobre da Costa – e em
novembro de 2015, com o XX Governo Constitucional, liderado por Pedro
Passos Coelho.