s
Eleições
Chega e CDU trocam acusações sobre PREC e ‘troika’ em debate marcado por diferenças

Os líderes de PCP e Chega trocaram na sexta-feira várias críticas e levaram para o debate das legislativas os tempos do PREC e da ‘troika’, num frente a frente que marcou diferenças nas propostas para a habitação ou imigração.


Autor: Lusa /AO Online

“Podemos estar aqui a propor tudo e mais alguma coisa, mas há uma história e que André Ventura também conhece bem. Durante aqueles tempos sombrios da 'troika', durante o tempo do corte das pensões, do corte dos salários, do corte do subsídio de Natal, durante o maior aumento de impostos de que há memória no nosso país, o deputado André Ventura estava a aplaudir aquelas opções”, afirmou o secretário-geral do PCP, quando o tema eram as pensões.

Durante o debate entre Paulo Raimundo e André Ventura, no âmbito das eleições legislativas de 10 de março, na CNN Portugal, o presidente do Chega e antigo militante e dirigente do PSD afirmou que na altura não era nem deputado, nem governante, pedindo ao comunista que “seja sério”.

"Era o mesmo que eu dizer assim, o Paulo Raimundo quando foi o PREC estava no PCP, portanto é responsável por isso, pelas nacionalizações, pelas expropriações, pelos assassinatos. [...] Quando houve o 25 de Abril e foi o PREC vocês mataram pessoas, expropriaram, acha que é bonito eu entrar neste debate consigo assim? Tenho certeza do que estou a dizer", disse, mais à frente, André Ventura.

Perante esta resposta, o secretário-geral do PCP pediu ao presidente do Chega para ter "tento nas afirmações", o que levou Ventura a perguntar se "é uma ameaça" e a dizer que "pensava que esses tempos já tinham passado".

O líder do Chega acusou ainda o PCP de não ser democrático e Paulo Raimundo disse orgulhar-se de os comunistas não terem acompanhado no parlamento “nenhuma das medidas que o Chega apresentou, fosse qual fosse”.

Neste debate, ficaram também visíveis as diferenças entre as propostas dos dois partidos, nomeadamente na área da habitação, com o Chega a defender que o Estado possa ser “o garante”, fiador, da entrada na compra de habitação, bem como uma isenção de IRS para jovens até perfazerem 100 mil euros de rendimentos.

Já o PCP, propôs a disponibilização de 50 mil habitações de património público ao longo dos próximos quatro anos, entre construção nova e reabilitação.

No que toca à imigração, André Ventura defendeu um maior controlo das fronteiras, enquanto Paulo Raimundo assinalou que os milhares de portugueses “foram empurrados” para o estrangeiro “pelo governo PSD/CDS” e defendeu que os estrangeiros que vêm para Portugal “têm de ter direitos e deveres”.

Este debate ficou também marcado por questões que ficaram por responder.

O secretário-geral do PCP pediu ao líder do Chega para “acabar de uma vez por todas” com “a mentira” de que os comunistas não pagam impostos. Raimundo indicou que o PCP pagou em 2022 "mais de 450 mil euros" e "da Festa do Avante! pagou quase 190 mil euros em impostos" e quis saber quanto é que o Chega pagou em contribuições no mesmo ano, mas Ventura disse não ter esses números consigo.

Já André Ventura questionou o secretário-geral comunista se a CDU defende a saída de Portugal da União Europeia e do Euro, mas Raimundo não respondeu diretamente, aconselhando o líder do Chega a “ler melhor” o programa eleitoral da coligação.

Outro tema em que os dois líderes discordaram foi no que toca à corrupção, com o PCP a considerar que o centro deste problema “são as privatizações”, os “paraísos fiscais” e “subjugação do poder político ao poder económico”, argumentando que “é aí que estão as negociatas, o compadrio”.

Por seu turno, o presidente do Chega contrapôs que a corrupção "não é de empresas públicas ou privadas, está instalada em Portugal", e defendeu medidas como o aumento de penas ou a apreensão de bens.

Quanto às pensões, Ventura estimou que a sua proposta para que nenhum reformado e pensionista ganhe um valor abaixo do salário mínimo dentro de seis anos tenha um custo de “sete a nove mil milhões de euros” e representa um “aumento de despesa de 7% face ao PIB deste ano”.

Raimundo indicou que a proposta da CDU é de um aumento de "70 euros, 7,5% para todas as pensões já", o que representa um "acréscimo de 1.600 milhões de euros".

No final, o presidente do Chega foi questionado ainda sobre a situação política nos Açores e indicou que só se houver um "acordo de Governo" o seu partido pode viabilizar um novo governo regional de direita.