Chega/Açores admite chumbar orçamento de 2025 se prioridade às creches não avançar
9 de ago. de 2024, 14:44
— Lusa/AO Online
“[Se a medida não for
aplicada] o próximo orçamento cai e temos eleições novamente. Eu peço
desculpa aos açorianos. [Mas] ou as coisas se fazem a favor das pessoas
ou não vale a pena termos governo. O governo cai todo”, disse José
Pacheco aos jornalistas.O deputado e líder
do Chega açoriano falava em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel,
no final de uma reunião com a Associação Humanitária de Bombeiros
Voluntários.Na segunda-feira, o presidente
do executivo açoriano, o social-democrata José Manuel Bolieiro, afirmou
que a intenção do Governo Regional, em matéria de creches, é adequar a
oferta de vagas à procura existente, para que todos os pais e
encarregados de educação possam ter uma “resposta adequada” às suas
necessidades.No dia seguinte, José Pacheco
reagiu em comunicado, dizendo que ficou “surpreendido com a intenção”
do executivo de coligação de recuar na prioridade no acesso às creches
para filhos de pais que trabalham, considerando que se “ajoelha ao
discurso deturpado da esquerda”.Esta sexta-feira,
questionado pela agência Lusa sobre o assunto, o líder regional do Chega
disse que não tem “medo de nada, nem de ninguém” e muito menos daqueles
que “andam a envenenar a opinião pública, quando sabem que a maioria
dos açorianos concorda com o Chega”.“Eu
estou pronto para ir a votos no dia [em] que for preciso. Eu não desejo
votos, mas estou pronto para ir a votos no dia [em] que for preciso”,
sublinhou.Pacheco adiantou ainda que irá
ter uma conversa em privado com o presidente do executivo do arquipélago
(que governa sem maioria absoluta) e garantiu que o assunto é para ser
resolvido localmente: “Este assunto não vai a Lisboa e volta cá. Os
assuntos dos Açores são resolvidos nos Açores. E nós não vamos sequer
recuar um milímetro.”O deputado observou
que para além das creches é preciso ter em conta a existência de
atividades de tempos livres (ATL) e que “as pessoas que trabalham não
têm onde colocar os filhos”.A 12 de
julho, o parlamento açoriano aprovou uma resolução do Chega (sem força
de lei) que recomenda ao Governo Regional que altere as regras no acesso
às creches gratuitas nos Açores, para dar prioridades às crianças com
pais trabalhadores, justificando a mudança com a falta de vagas para a
crescente procura no arquipélago.A medida
foi contestada por alguns partidos políticos, que consideram a resolução
“discriminatória” e “penalizadora” para as crianças provenientes de
famílias com menores recursos financeiros e com desemprego.A aprovação na Assembleia Legislativa contou com os votos favoráveis do Chega, PSD, CDS-PP e PPM, e a abstenção da IL.Após
as declarações de Bolieiro, o Chega/Açores afirmou na terça-feira que
não se revê “numa governação que recua ao mais leve agitar das águas”.“Ao
que parece, o Governo Regional dos Açores perdeu a sua autonomia e
vergou-se aos caprichos de Montenegro [presidente do PSD], em Lisboa. De
igual modo, desrespeita o parlamento dos Açores, que aprovou por
maioria esta recomendação, ao não a querer executar ou até mesmo alterar
o seu sentido”, afirmou José Pacheco, citado numa nota de imprensa.Para
o também líder do partido no arquipélago, uma governação “que vive, ou
sobrevive, ao sabor dos comentadores e inflamadores sociais, não pode
ter condições de prosseguir”. O Chega é a
terceira força política na região e, após as eleições regionais do
início deste ano, chegou a exigir integrar o executivo regional para
viabilizar o Programa do Governo. Na votação, acabou por se abster.