Chamas mataram 66 pessoas e atingiram cerca de 500 casas
Pedrógão Grande
17 de jun. de 2019, 09:59
— Lusa/AO Online
Mais de dois terços das
vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas
pelas chamas na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pera e
Figueiró dos Vinhos, no interior norte do distrito de Leiria, ou em
acessos àquela via.As chamas, que
eclodiram pelas 14h00 de 17 de junho de 2017, foram extintas passado uma
semana (24 de junho), depois de, em 20 de junho, se terem juntado ao
fogo que, cerca de dez minutos depois do início daquele incêndio, no
concelho de Pedrógão Grande (em Escalos Fundeiros), deflagrou no
município de Góis (distrito de Coimbra), em Fonte Limpa.Cerca
de 53 mil hectares de território, 20 mil hectares dos quais de
floresta, sobretudo dos municípios de Pedrógão Grande, Castanheira de
Pera e Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria, de Góis, Penela e
Pampilhosa da Serra (Coimbra) e da Sertã (Castelo Branco), e ainda de
Alvaiázere e de Ansião (Leiria), de Arganil (Coimbra) e de Oleiros
(Castelo Branco), foram atingidos por estes fogos.Além
de terem destruído total ou parcialmente mais de meio milhar de casas,
264 das quais habitações permanentes, cerca de 200 habitações
secundárias e mais de cem casas devolutas, de acordo com dados da
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), as
chamas também atingiram quase meia centena de empresas, afetando os
empregos de quase 400 pessoas.Em 03 de
julho de 2017, a CCDRC calculava os prejuízos diretos dos fogos em 193,5
milhões de euros, prevendo mais de 303 milhões de euros para medidas de
prevenção e relançamento da economia na região.Um
ano depois, 157 das habitações permanentes (60%) destruídas pelo fogo
tinham sido recuperadas. Dois anos após o incêndio estão concluídas 90%
daquelas casas, sendo que cerca de um terço dizem respeito a novas
construções e as restantes a reconstruções parciais.O
inquérito que investiga alegadas irregularidades no apoio à
reconstrução de casas envolve 43 arguidos, anunciou em 07 de junho de
2019, a Procuradoria-Geral da República. O presidente da Câmara de
Pedrógão Grande, Valdemar Alves, é um dos arguidos, adiantou à agência
Lusa, na mesma ocasião, fonte judicial. Em
26 de abril de 2019, 13 pessoas, entre as quais os presidentes dos
municípios de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande
em funções em junho de 2017, Fernando Lopes, Jorge Abreu e Valdemar
Alves, respetivamente, foram constituídas arguidas, sob acusação de
crimes de homicídio por negligência e de ofensa à integridade física por
negligência.“Com este processo, o
Ministério Público (MP) nunca pretendeu, nem pretende, crucificar
ninguém, mas tão só apurar responsabilidades”, afirmou então a
procuradora do MP de Leiria, sublinhando que “a instrução não é um
pré-julgamento”, mas que “cumpre analisar a suficiência ou não dos
indícios”.O Conselho para a atribuição de
indemnizações às vítimas dos incêndios de 15 de junho e de 17 de outubro
de 2017 fixou, em final de novembro desse ano, em 70 mil euros o valor
mínimo para privação de vida.O processo de
indemnização relativo às vítimas mortais dos incêndios de Pedrógão
Grande recebeu, de acordo com a Provedora de Justiça, 65 pedidos e 57
pedidos de indemnização de feridos graves. As indemnizações a familiares
das vítimas mortais dos incêndios de junho e de outubro, que
totalizaram 114 mortes, ascendem a um valor global da ordem dos 31
milhões de euros. Estimativas feitas
pouco tempo depois dos incêndios apontavam para que os prejuízos
provocados na floresta ultrapassassem os 83 milhões de euros, enquanto
os danos em habitações apontavam para mais de 27,6 milhões de euros, na
indústria e turismo perto de 31,2 milhões de euros, na agricultura 20
milhões de euros e noutras atividades económicas mais de 27,5 milhões de
euros. Os danos provocados em infraestruturas municipais eram avaliados
em cerca de 20 milhões de euros e na rede viária nacional em perto de
2,6 milhões de euros.O fogo de Pedrógão
Grande foi “muito provavelmente aquele que, em Portugal, libertou mais
energia e o fez mais rapidamente (com um máximo de 4.459 hectares
ardidos numa só hora), exibindo fenómenos extremos de vorticidade e de
projeção de material incandescente a curta e a longa distância", afirma o
relatório da Comissão Técnica Independente (CTI), criada para avaliar
os incêndios ocorridos entre 17 e 24 de junho, naqueles 11 concelhos dos
distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco.A
Assembleia da República aprovou, em 07 de junho deste ano, por
unanimidade, um projeto de resolução que consagra o dia 17 de junho como
Dia Nacional em Memória das Vítimas dos Incêndios Florestais.