Chá verde dos Açores eficaz no desenvolvimento de aplicações ortopédicas
11 de nov. de 2024, 15:02
— Lusa/AO Online
“Esta
abordagem, apesar de preliminar, acaba por ser bastante promissora para
o desenvolvimento de materiais avançados. Por um lado, porque se tornam
resistentes a infeções bacterianas. Por outro, porque promovem a
regeneração óssea”, explicou Marco Oliveira em declarações à agência
Lusa.O investigador trabalha no Instituto
de Eletrónica da Academia das Ciências da Bulgária, que integra um
projeto europeu Marie Curie (é uma das iniciativas apoiadas pelo
programa com este nome) e faz parte de um consórcio com várias
universidades, institutos e empresas com o objetivo de desenvolver
materiais com “características antibacterianas para a regeneração
óssea”.Marco Oliveira lembrou-se das
“raízes açorianas” quando a equipa estava a procurar um antioxidante
para incorporar nas aplicações ortopédicas, uma vez que as infeções
bacterianas são uma das “principais causas da rejeição de implantes
ósseos”.“Aquilo que precisávamos era de um
antioxidante, de preferência que fosse algo natural. Como eu mantenho
sempre uma ligação muito forte às raízes, lembrei-me automaticamente do
nosso chá verde dos Açores, mais especificamente do chá da Gorreana”,
referiu.O método inovador parte da
sintetização de nanopartículas de prata e une a tecnologia de laser
femtossegundo ao extrato da folha daquele chá que é cultivado na
freguesia da Maia, na costa norte da ilha de São Miguel.O estudo, já publicado na revista científica Materials, demonstrou a eficácia do chá verde da Gorreana.“Verificámos
que a junção das tecnologias promove um efeito de estimulação bastante
significativo do crescimento das células do osso, mostrando até sinais
preliminares de mineralização ósseas após 15 dias de crescimento e uma
redução significativa do crescimento bacteriano”, revelou.Apesar
de o projeto ainda estar numa “fase preliminar”, a aplicação daquele
chá em nanopartículas poderá permitir combater doenças como a
osteoporose.A utilização em específico do
chá verde explica-se com uma razão prática: era o tipo de chá de que
Marco Oliveira dispunha em casa.“Era o que
eu tinha disponível aqui na Bulgária. Um bom açoriano anda sempre
abastecido com aquilo que é nosso. Faço questão de ter alguma coisa que
me faça sempre lembrar as origens”, confessou, admitindo que poderão
existir outros chás, como o preto da Gorreana, com potencialidades para a
aplicação ortopédica.O açoriano, que
rumou à Bulgária após oito anos no Porto (onde tirou a licenciatura e o
mestrado em Biotecnologia Medicinal e Microbiologia Aplicada,
respetivamente) explicou que a próxima fase passa por realizar uma
“investigação mais profunda” para detalhar os resultados do primeiro
estudo.“Se virmos que tem potencial
poderemos avançar para fases mais avançadas com teste ‘in vitro’ e
depois, quem sabe, passar aos testes humanos e ver se é possível aplicar
em prática clínica”, concluiu.