Cerca de 50% das mulheres na menopausa em Portugal “assume mal-estar”
17 de abr. de 2024, 18:29
— Lusa
Esta é “a
maior de todas as fases da saúde da mulher, ocupando, em média, 40% das
suas vidas” e “é, também, a fase em que mais sofrem: cerca de metade
das mulheres assumem mal-estar nesta fase o que, comparando com o
mal-estar exibido na puberdade (20% das mulheres) é um número 140%
superior, e comparando com o mal-estar exibido na maternidade (12% das
mulheres) é um número 300% superior”. A
investigação deu continuidade ao estudo, realizado através do projeto
Saúdes da Médis e divulgado em 2022, “Saúde e bem-estar das Mulheres, um
Potencial a alcançar”, aprofundando o tema da menopausa.Realizado
durante “27 meses”, o trabalho teve por base “245 entrevistas
quantitativas, cinco grupos de referência e quatro conversas
aprofundadas com profissionais de saúde”, tendo sido entrevistadas 33
mulheres entre os 45 e os 65 anos.“Vivemos
numa sociedade que não está preparada para falar abertamente sobre a
menopausa e até a esconde. Isto colide com a necessidade, que ouvimos da
boca da maioria das mulheres com quem falámos, que vai precisamente em
sentido contrário, ou seja, querem e precisam expor, sem tabus,
sintomas, medos e anseios em relação ao tema”, alertou Maria Silveira,
responsável de Orquestração Estratégica, Ecossistema de Saúde do Grupo
Ageas Portugal, ao qual pertence a Médis. A
investigação complementa a classificação médica e científica da
menopausa, que a divide em três fases - perimenopausa, menopausa e
pós-menopausa -, e “tendo em conta a visão e os sentimentos das mulheres
(a subjetividade)” associa quatro “estados de alma” ao processo:
desconhecimento, sofrimento, gestão e libertação.Segundo
o estudo, a fase da menopausa é “muito pouco valorizada e falada”
também pelos “médicos e profissionais de saúde”, apesar de lhe serem
associados “mais de 30 sintomas” e de 72% das mulheres entre os 45 e os
60 anos viverem num estado permanente de tensão e 50% afirmarem já ter
tido um esgotamento ou depressão.Por outro
lado, o facto de não ser “pensada ou preparada (ao contrário da
maternidade e da menstruação), aumenta a dificuldade” na sua gestão.De
acordo com os dados da investigação, 52% das mulheres afirmam estar mal
ou medianamente preparadas para lidar com esta fase de vida.Os
“desconfortos mais manifestados” são os afrontamentos (69%), dores nas
articulações (49%), suores noturnos e/ou perturbações do sono (48%),
ansiedade (45%), secura vaginal (42%) e diminuição da libido (37%).“A
nível profissional, 65% das mulheres que se encontram nesta condição
sentem discriminação no local de trabalho e 22% já pensou mudar ou
abandonar o seu trabalho”. Quanto à
“libertação”, considera-se que, embora seja uma fase pouco falada, deve
ser destacada, já que apesar de “alguns dos sintomas poderem durar mais
de uma década, a maioria deles acaba por se desvanecer” e “apenas 20%
das mulheres dizem ter sintomas há mais de cinco anos”.“A
menopausa não é uma doença, mas uma condição. Sendo diferente de mulher
para mulher, existem tantas menopausas quantas as mulheres, o que
também dificulta”, disse Maria Silveira, citada num comunicado sobre a
iniciativa de hoje “Dar ouvidos e voz à Menopausa”, para divulgar o
estudo e que incluiu uma mesa-redonda.A
responsável diz por isso que “ouvir estas mulheres, orientá-las e
dar-lhes voz é, em si mesmo, um ótimo ‘medicamento’, além, claro, de um
acompanhamento holístico (ginecologia, psicologia, nutrição, exercício
físico)".