Centro de Washington protege-se de eventuais distúrbios
EUA/Eleições
2 de nov. de 2020, 12:20
— Lusa/AO Online
"Isto
parece um forte de 'cowboys'. Os 'gringos' [norte-americanos] estão com
medo de que se 'monte' aqui uma grande confusão na terça-feira à noite
e, por isso, fomos mandados para aqui para tapar as montras", disse à
Lusa um operário de origem salvadorenha, no centro da cidade de
Washington.Equipas de trabalhadores da
construção civil passaram os últimos dias a tapar com painéis de
contraplacado as grandes montras, escaparates ou entradas de
restaurantes e hotéis à volta da Casa Branca, Avenida Pensilvânia nº
1600, a residência oficial do chefe de Estado norte-americano.Na
mesma avenida, o "Trump International Hotel", um edifício onde
funcionou o posto dos correios na capital, estão hasteadas cinco
bandeiras dos Estados Unidos e o local está rodeado de grades de metal,
assim como a sede do FBI [polícia federal], situado a dois quarteirões
de distância.As visitas turísticas à Casa
Branca foram suspensas e nas ruas do centro da capital dos Estados
Unidos a polícia afixou cartazes para avisar de que está proibido o
porte e uso de armas de fogo a mil metros da zona dos avisos.Apesar
da presença da polícia, os protestos do movimento "Black Lifes Matter"
mantêm-se frente às grades de proteção da Casa Branca."Este
protesto é contra a violência policial, mas também é um protesto contra
[Donald] Trump porque ele dá apoio aos polícias que estão a atacar os
negros", disse à Lusa Nadine Sally, que se vai manter no local "pelo
menos até quarta-feira"."Vou ficar aqui no
dia 03 [terça-feira] e no dia 04 [quarta-feira] também. Em Washington,
as pessoas podem votar até terça-feira, por isso, estamos aqui para
apelar ao voto. Para as pessoas irem votar porque tudo isto que está a
acontecer não é normal", acrescentou a ativista afro-americana que, tal
como os outros manifestantes, criticou a atual administração."Trump
é um 'ser humano' terrível. Nada disto é normal e se os americanos não
negarem aquele gabinete ali (Sala Oval) ao 'ser humano terrível' vamos
ser motivo de chacota em todo o mundo", acrescentou Nadine Sally,
apontando para o edifício da Casa Branca. O
principal motivo dos protestos prende-se com a "questão do racismo" e
poucas são as referências às posições do chefe de Estado norte-americano
sobre a crise sanitária ou assuntos ligados à economia."Para
mim é simples: não há raças. A raça é a humanidade e eu vou protestar
até ao último dia da minha vida porque os direitos humanos dizem
respeito a todas as pessoas", disse Javier, um manifestante de origem
colombiana, naturalizado nos Estados Unidos.Enquanto
os manifestantes junto às grades vão acrescentando os cartazes contra o
racismo e contra o Presidente dos Estados Unidos, carros conduzidos por
apoiantes de Donald Trump passam na avenida com bandeiras da campanha
do Partido Republicano sem que se verifique qualquer alteração da ordem
pública.A poucos metros de distância dos
protestos contra Trump, um grupo de cerca de 20 pessoas, na maioria
mulheres apoiantes do chefe do Estado, participa numa cerimónia
religiosa que celebra "os esforços da atual administração
norte-americana para a paz no Médio Oriente"."Trump
conseguiu grandes avanços", disse uma apoiante do Partido Republicano
que participa na celebração em que são entoados cânticos religiosos.Os
participantes seguram bandeiras de Israel e dos Estados Unidos e um
homem faz soar um 'shofar', instrumento de sopro judeu feito de chifre
de carneiro.Na zona centro da cidade há
três assembleias de voto a funcionar e que vão manter-se abertas aos
eleitores até ao final do dia de terça-feira.O
fim de semana de campanha foi intenso e os dois candidatos
desdobraram-se em ações, sobretudo Donald Trump que realizou quatro
encontros com eleitores no estado da Pensilvânia (nordeste). A
candidatura de Joe Biden tem apelado ao voto do
eleitorado afro-americano, tendo o candidato democrata feito campanha em
Detroit, no estado do Michigan (nordeste), e contado com a participação
do ex-Presidente Barack Obama em Filadélfia, no estado da Pensilvânia,
onde na semana passada a polícia abateu a tiro Walter Wallace Jr,
afro-americano que sofria de perturbações mentais.