Centeno defende repensar das regras da dívida e do défice na UE
7 de jul. de 2020, 10:44
— LUSA/AO online
Em entrevista ao Financial Times dias antes do
final do seu mandato à frente do Eurogrupo, na segunda-feira, Centeno
considera que os governos da UE deveriam aproveitar a pausa imposta pela
pandemia de covid-19 na aplicação dos limites orçamentais para repensar
estas normas e evitar reaplicá-las “cegamente”, incluindo o teto de 60%
do Produto Interno Bruto (PIB) até agora imposto às dívidas nacionais.“O
importante para a Europa, a nível fiscal, nos próximos meses e anos é a
forma como vai ser gerido o regresso à aplicação das normas fiscais, de
forma a evitar o irromper de uma recessão”, afirma o ex-ministro das
Finanças de Portugal.Este ano, a dívida
pública da zona euro deverá aumentar para 102% do PIB na sequência dos
fundos públicos injetados na economia durante os meses de paralisação
económica resultante do confinamento.Segundo
Centeno, que em junho foi proposto pelo Governo para assumir as funções
de governador do Banco de Portugal (BdP), “esta crise vai levar a
significativos aumentos da dívida pública e privada” e “exigir elevados
níveis de investimento” em todos os países: “Aplicar as regras cegamente
poderá ser irrealista nestas circunstâncias e por em causa a
credibilidade do sistema”, considera.Na
entrevista ao Financial Times, Mário Centeno defende que a Comissão
Europeia, que no ano passado iniciou uma consulta sobre o Pacto de
Estabilidade e Crescimento, deve continuar a trabalhar no sentido de
apresentar ideias de reformulação das atuais regras que os ministros da
UE possam debater após o verão.Segundo
Centeno, embora as negociações em curso sobre o pacote de 750 mil
milhões de euros de ajudas à recuperação económica europeia sejam “a
prioridade imediata”, os ministros das Finanças deveriam também tentar
estabelecer “metas realistas” para a reposição das regras fiscais.“Não
nos devemos precipitar, mas sabemos que teremos de voltar a cumprir
regras de política fiscal”, afirmou, sustentando, contudo, que “não faz
sentido tentar determinar trajetórias irrealistas para retomar o Pacto
de Estabilidade e Crescimento, dada a enorme incerteza em torno da
evolução do vírus e do seu impacto nas economias europeias”.“Primeiro temos de superar as dificuldades”, rematou.A
pandemia de covid-19 já provocou mais de 535 mil mortos e infetou mais
de 11,52 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um
balanço feito pela agência francesa AFP.Em
Portugal, morreram 1.620 pessoas das 44.129 confirmadas como infetadas,
de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.Depois
de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o
continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais
mortes.As medidas para combater a pandemia
paralisaram setores inteiros da economia mundial e levaram o Fundo
monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus
quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por
uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de
5,2% no Japão.Para Portugal, a Comissão
Europeia prevê que a economia recue 9,8% do PIB em 2020, uma contração
acima da anterior projeção de 6,8% e da estimada pelo Governo português,
de 6,9%O Governo prevê que a economia
cresça 4,3% em 2021, enquanto Bruxelas antecipa um crescimento mais
otimista, de 6,0%, acima do que previa na primavera (5,8%)A taxa de desemprego deverá subir para 9,6% este ano, e recuar para 8,7% em 2021. Em
consequência da forte recessão, o défice orçamental deverá chegar aos
6,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 e a dívida pública aos
134,4%.