Cavaco felicita Costa, recorda reformas que fez e diz esperar melhor deste Governo
1 de jun. de 2022, 11:25
— Lusa/AO Online
Num artigo publicado no
Observador quatro meses depois da vitória do PS nas eleições
legislativas de 30 de janeiro, Cavaco Silva pede desculpa pelo atraso
com que felicita António Costa e considera: “Foi uma vitória da sua
pessoa como líder do PS”.“É certo que
beneficiou dos erros do PSD e da benesse do PCP e do BE ao chumbarem o
Orçamento do Estado para 2022, mas ninguém lhe pode tirar o mérito”,
escreve Cavaco Silva, recordando que também ele beneficiou de uma
benesse na conquista da primeira maioria, em julho de 1987: “a aprovação
pela Assembleia da República da moção de censura ao governo apresentada
pelo PRD”.No artigo, lembra as maiorias
absolutas que conquistou e enumera as reformas feitas no tempo dos seus
governos, sublinhando que, nessa altura, foram dados alguns passos que
abriram novas perspetivas à geração de Costa e que “facilitam” agora a
tarefa do Governo. “Receio que, na
excitação da tomada de posse, se tenha esquecido de que vários desses
passos resultaram do diálogo e do consenso com o seu partido”, escreve.Cavaco
lembra a persistência da parte dos seus governos para “estabelecer
alguns consensos importantes” com o PS e sublinha vários, dizendo que o
faz como estímulo para que o Governo de António Costa “faça mais e
melhor”.Começa por destacar as revisões
constitucionais de 1989 e de 1992 e continua recordando que as posições
do governo que liderou nas “complexas negociações” do Tratado de
Maastricht tiveram o apoio do PS: “fruto do diálogo permanente mantido
com o seu líder”, escreve.Insistindo no
espírito de diálogo com a oposição, Cavaco recorda igualmente a
aprovação pelos seus governos, com o voto favorável do PS, da Lei de
Bases do Sistema Educativo, a nova Lei das Finanças Locais, a Lei da
Autonomia Universitária, a primeira Lei de Bases do Ambiente, a Lei do
Mecenato Cultural, a Lei de Segurança Interna, os novos Códigos Penal e
das Sociedades Comerciais, o Código do Procedimento Administrativo e a
Lei de Bases dos Transportes Terrestres.Lembra
igualmente o “intenso, profundo e frutuoso diálogo” dos seus governos
de maioria absoluta com os parceiros sociais e sublinha a assinatura de
quatro acordos de concertação social.“Pelo
que observei nos seis anos de governo da “geringonça”, V. Exa.
considera certamente um exagero o meu entusiasmo e valorização do
diálogo e da concertação social”, escreve Cavaco, recordando que a
concertação social contribuiu, no tempo dos seus governos, para “a
redução da inflação, o aumento real dos salários e das pensões, a
elevada taxa de crescimento da economia e para a aproximação do país ao
nível médio de desenvolvimento da UE como nunca mais voltou a
acontecer”.Diz também que uma das reformas
que gostaria de ter feito em consenso com o PS foi “a abertura da
televisão à iniciativa privada e a liberalização da comunicação social”.“O
PS, surpreendentemente e não sei com que intenções, revelou-se contra o
fim da anacrónica situação em que o Estado português detinha o controlo
total ou quase total de cinco jornais diários e de um jornal desportivo
e em que, no setor da radiodifusão, só a Rádio Renascença lhe
escapava”, acrescenta, e dirigindo-se a Costa, escreve: “Espero que,
hoje, V. Exa. reconheça que era um quadro redutor da liberdade de
expressão e informação e atrofiador da sociedade civil”.Sobre
a situação fiscal, escreve que o atual sistema de impostos é
caracterizado pela “iniquidade, ineficiência económica e pela
brutalidade da sua carga para o nosso nível de desenvolvimento” e diz
estar certo de que Costa atuará melhor no diálogo com os partidos e
organizações sociais e deixará na história da fiscalidade portuguesa
"uma marca reformista" que ultrapassará a dos governos de maioria
absoluta que liderou.Aponta ainda o dedo
ao PS na área da saúde, por se ter oposto à aprovação, em 1987, da nova
lei da gestão hospitalar e, em 1990, da Lei de Bases da Saúde, “que
abriu à iniciativa privada a prestação de cuidados de saúde e que se
manteve em vigor durante 29 anos, resistindo a cinco governos do PS”,
sublinha.“Face à deterioração da qualidade
dos serviços prestados pelo Serviço Nacional de Saúde durante o tempo
do governo da “geringonça”, estou certo de que ao seu governo de maioria
absoluta não faltará a coragem para fazer mais e melhor do que foi
feito pelos meus governos na área da saúde”, escreve.“Sendo
conhecida a sua vontade de fazer reformas e habilidade no diálogo com o
maior partido da oposição no sentido de as concretizar, estou certo
que, com o seu governo de maioria absoluta, tudo correrá na perfeição”,
conclui.