Cavaco alerta para "custos catastróficos" de falhanço com compromissos
21 de jun. de 2011, 13:49
— Lusa/AO Online
Traçando um ‘quadro negro’ da situação dos últimos anos, com um crescimento económico débil, um aumento excessivo do peso do Estado, um desequilíbrio acentuado das contas públicas e os “sinais de forte recessão” dos últimos meses, Cavaco Silva diagnosticou “uma situação de emergência, caracterizada por enormes dificuldades económicas, financeiras e sociais”.
Nesta situação, recordou, o recurso à ajuda externa tornou-se “inevitável”, estando agora o país obrigado a cumprir um exigente programa de austeridade e de reforma.
Mas, avisou, o cumprimento desse mesmo programa, que tem custos e exige “muitos sacrifícios” é também “uma solução que se tornou inevitável”.
“O Governo que inicia funções tem responsabilidades acrescidas, uma vez que os sacrifícios pedidos são enormes, as expectativas geradas são extremamente elevadas e as exigências impostas não têm paralelo na nossa História recente. Não podemos falhar, sob pena de a situação se tornar economicamente irreversível e socialmente insustentável”, sustentou.
Contudo, notou também o Presidente da República, para enfrentar a atual situação do país, o novo Governo dispõe “da força de um resultado eleitoral inequívoco, de uma maioria no Parlamento e da cooperação do Presidente da República”.
“Não há motivos para deixar de fazer o que deve ser feito, a começar pelo cumprimento dos compromissos que assumimos perante as instituições internacionais. Os custos de um falhanço seriam absolutamente catastróficos e durariam por muitos e muitos anos, hipotecando drasticamente o futuro das gerações mais jovens”, reforçou.
Se Portugal falhar, acrescentou, ficará sujeito a restrições de financiamento ainda mais graves do que as atuais, uma situação que teria “consequências dramáticas” para o funcionamento do sistema económico e financeiro e limitaria por vários anos as perspetivas de crescimento do país e de criação de emprego.
Por isso, e perante “um caderno de encargos de grande responsabilidade”, o novo executivo liderado por Pedro Passos Coelho só terá sucesso se agir com “determinação e sentido de urgência”
Contudo, acrescentou ainda o chefe de Estado retomando a ideia de justiça na repartição de sacrifícios, as tarefas deste Governo não se esgotam no mero cumprimento do acordo com as instituições internacionais e uma das suas funções primordiais será “atenuar os elevados custos sociais das medidas que terão de ser tomadas”, sendo igualmente prioritário “uma utilização muito criteriosa dos recursos públicos, com vista a ajudar os cidadãos efetivamente mais carenciados”.
Elencando depois algumas das ‘tarefas’ do novo executivo, como a redução significativa do desequilíbrio externo, a consolidação das finanças públicas, a melhoria do sistema judicial, Cavaco Silva pediu igualmente o contributo de todos os portugueses para poupar mais, trabalhar melhor, recordando que Portugal não pode continuar a viver acima das suas possibilidades, a gastar mais do que aquilo que produz e a endividar-se.
Pedindo aos portugueses para serem especialmente atentos, “numa atitude cívica responsável e exigente”, Cavaco Silva prometeu essa será também a sua conduta, numa postura de “isenção e imparcialidade” perante os partidos, “cooperando lealmente com o Governo”.
“O momento é de muito trabalho, de ação ponderada, de diálogo político e social. O presente exige o melhor de nós, seja do Governo que hoje toma posse, seja do Parlamento renovado, seja de todos os cidadãos. Ninguém está imune à crise. Cada um de nós será chamado a dar o seu contributo para vencermos as adversidades do presente”, declarou, sublinhando que “cada Português tem uma quota de responsabilidade no futuro do seu país” e que “temos todos de começar já hoje a trabalhar em conjunto”.