Catarina Martins recusa que escolha seja entre direitos humanos e economia
Migrantes
31 de mai. de 2021, 11:43
— Lusa/AO Online
Catarina Martins falava, no domingo, na praceta
Amarela, no populoso bairro de S. Domingos, na sessão de apresentação
dos cabeças de lista aos órgãos autárquicos escalabitanos nas eleições
deste ano, a qual contou com a presença de um grupo de trabalhadores
migrantes que vivem em Santarém há cerca de dois anos e cujas histórias
quis ouvir, agradecendo a coragem por estarem presentes, apesar de todas
as pressões.A líder do Bloco de Esquerda
(BE) referia-se à declaração feita pelo secretário-geral da Confederação
dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, de que “as pessoas são
contra as estufas de Odemira, mas depois querem tomate ‘cherry’”.“Como
quem diz que quem quiser agricultura em Portugal terá de ser cúmplice
do trabalho forçado e da exploração do trabalho migrante”, declarou
Catarina Martins, frisando que a escolha não pode ser “entre direitos
humanos e economia”.“O que fazemos é impor
regras à economia para que ela respeite quem trabalha”, acrescentou a
dirigente bloquista, reafirmando o empenho do BE em conseguir uma
política de imigração “que crie caminhos legais e a responsabilização
criminal de toda a cadeia que ganha com a exploração dos trabalhadores
migrantes que estão numa situação de trabalho forçado”.Reconhecendo que pode ser difícil, Catarina Martins afirmou que “intolerável é aceitar o trabalho forçado em Portugal”.Para
a líder do BE, só há tantos trabalhadores migrantes a ser explorados,
seja em Odemira, em Almeirim ou em Santarém, “porque há quem lucre, quem
ganhe muito dinheiro”, aproveitando-se de quem não sabe a língua nem
conhece as leis e não tem rede social de suporte.Referindo-se
aos trabalhadores migrantes presentes, alguns a trabalhar na
agricultura, outros na construção, em fábricas ou já com negócios
próprios, Catarina Martins afirmou que foram recrutados por uma empresa
no norte da Índia, à qual pagaram, e foram postos a trabalhar "sem os
contratos devidos para os sítios onde foram colocados".Nesse
caminho, passaram por sucessivos intermediários, “a ganharem sempre o
dinheiro que não é deles, roubando salário e condições” a estes
trabalhadores, disse.Aos trabalhadores,
Catarina Martins reafirmou o “compromisso de fundo” do Bloco de
Esquerda, o de que “em Portugal, todas as pessoas, independentemente da
cor da sua pele ou do passaporte que trazem no bolso, têm os mesmos
direitos, nem menos nem mais, também no trabalho”.Para
isso, afirmou, o BE quer uma política de migração que acabe com os
intermediários, permitindo aos trabalhadores que são necessários às
empresas portuguesas “entrarem no país com todas as condições de um
contrato de trabalho, com todas as condições de serem recrutados
diretamente por quem precisa do seu trabalho”, e “garantir que toda a
gente que ganha dinheiro com a exploração destes trabalhadores é
responsável criminalmente pelo trabalho forçado”.“Não
é só a empresa de recrutadores que os foi buscar e que ninguém sabe
quem é, onde está. Aparece num dia e desaparece no outro”, acrescentou a
líder do BE, pedindo a responsabilização direta de “toda a cadeia e de
todos os responsáveis que ganham dinheiro à conta do abuso” de que estes
trabalhadores são alvo.