Catarina Branco conquista novos públicos (vídeo)

18 de ago. de 2013, 11:44 — Ana Carvalho Melo

Para a artista estas duas oportunidades são o reconhecimento do trabalho que tem vindo a realizar nos últimos anos.   “Não nos podemos acomodar e temos de ser muito ambiciosos e trabalhar bastante”, afirma Catarina Branco, explicando que considera esta experiência como “mais uma etapa” cumprida.    Já para a galerista Fátima Mota este tipo de oportunidade permite “catapultar a artista para a etapa seguinte”, uma vez que instituições como a Fundação Gulbenkian “são legitimadoras dos artistas e das suas obras”.   Na Fundação Calouste Gulbenkian, Catarina Branco tem expostas até 29 de setembro quatro peças da série ‘Alminhas’, integrando o programa “Próximo Futuro”, dedicado à arte contemporânea.    As ‘Alminhas’ são variações do trabalho que Catarina Branco desenvolve à volta do imaginário popular e da sua infância, recorrendo à técnica do recorte em papel.       As quatro ‘Alminhas’ surgem em diferentes espaços do jardim, preferencialmente em zonas com maior densidade vegetal, no meio das pequenas matas, por serem locais de repouso, de serenidade, de aparições, de revelações e de reconciliação, que conduzem a uma paragem quase obrigatória e à reflexão.    “As minhas Alminhas são pontos de recolhimento e de oração espiritual, de diálogo não só com as pessoas, mas também com a fauna e a flora existente”, refere a artista, explicando que se tratam de  “metamorfoses florais”.   O conceito destas obras surgiu após o convite para integrar esta mostra pelo programador geral da Fundação Calouste Gulbenkian, António Pinto Ribeiro.   “Estive a deambular pelo jardim, a passear, a ver os circuitos e foi interessante perceber que é um espaço extremamente orgânico o que dá azo a que haja confluências e pontos de encontro, o que me remeteu para um elemento histórico que tem muito a ver com a nossa tradição portuguesa e açoriana que são as Alminhas”, afirma.   No espaço Carpe Diem, no Bairro Alto, Catarina Branco está inserida num projeto de exposições múltiplas, patente até 17 de agosto, com a peça de chão ‘Caligrafia’ que cobre grande parte da Sala Branca do Palácio do Marquês de Pombal.    Desta feita inspirada nas geometrias dos tapetes de flores das procissões, ‘Caligrafia’ revela mais uma vez o olhar da artista sobre a cultura micaelense. “Fiz uma obra sobre os  tapetes de flores e  do trabalho à sua volta: desde a construção da grade, a apanha das flores até ao tipo de materiais utilizados. Eu faço uma reinterpretação desta arte popular micaelense que também existe noutras culturas”, afirma.   Uma das características dos trabalhos de Catarina Branco é a vertente espiritual e a questão da identidade açoriana que o seu trabalho apresenta, sendo que a artista evidencia estar aberta a referências de outras culturas.    “A minha espiritualidade é demonstrada através do meu trabalho, sempre sob um ponto de vista muito positivo e introspetivo e sempre querendo que os outros também a sintam”, diz, contando que já teve experiências e contactos com pessoas de outras culturas que se identificaram com as suas peças e as remeteram para histórias em que nunca tinha pensado. Outra das características da obra de Catarina Branco é o estímulo dos sentidos. “Todos os sentidos são despertos porque ao vermos uma peça da Catarina quase que se ouvem os ruídos que ela emana, o que as torna muito sensoriais”, refere Fátima Mota, salientando ainda que a intensidade da cor gera uma “alta frequência”, quase elétrica, que é muito agradável”.