Catalães descrentes que eleições possam resolver os seus problemas
19 de dez. de 2017, 16:30
— Lusa/AO online
“As
coisas estão mais calmas, mas o mal-estar continua e irá agravar-se
enquanto Madrid mantiver uma atitude de recusa do diálogo”, resumiu a
feirante Teresa em declarações à agência Lusa, não escondendo a sua
preferência pelos movimentos independentistas.As
eleições regionais de quinta-feira foram marcadas pelo chefe do Governo
espanhol, Mariano Rajoy, em finais de outubro, no mesmo dia em que
anunciou a dissolução do parlamento da Catalunha e a destituição do
executivo regional presidido por Carles Puigdemont.Teresa
assegurou que até aceitaria continuar a ser catalã e espanhola ao mesmo
tempo, se Madrid deixasse de “roubar dinheiro" à Catalunha e
reconhecesse a cultura e a especificidade da região.A
Catalunha é a comunidade autónoma mais rica de Espanha, responsável por
quase 20 % da riqueza produzida anualmente no país, apesar de ter
apenas 7,5 milhões de habitantes num total de 46,5 milhões.A
comprar o tradicional “ramo da sorte”, Daniel concordou com a feirante e
confidenciou que há dez anos não era independentista, mas nos últimos
anos mudou de opinião: “Enquanto os fascistas do Partido Popular
estiverem no poder [em Madrid] não haverá qualquer possibilidade de
diálogo”, disse resignado.Do
lado dos que defendem a continuação de uma Catalunha dentro de Espanha,
o acento tónico é colocado na necessidade de estabilidade, para que o
comércio volte para os níveis anteriores ao referendo de 01 de outubro
último, marcado pela maioria independentista que ganhou as anteriores
eleições regionais em 2015.“Esta
brincadeira separatista já nos custou uma grande redução no número de
turistas que nos visitavam e a fuga [da sede social] de muitas empresas
para outras regiões espanholas”, comentava uma outra feirante.No
mercado de Natal mais antigo da Catalunha, que vai na sua 231ª. edição,
as pessoas não gostam de falar destes temas que dividem há vários anos a
sociedade catalã.“Eu
e muitos amigos, em casa e no trabalho, não falamos disto para não nos
zangarmos. É a única forma de manter uma certa paz podre”, afirmou
Francisco em voz baixa com receio que o feirante da barraca ao lado
ouvisse a conversa sobre um tema de que todos estão cansados de discutir
sem que se chegue a uma solução.As
sondagens publicadas na imprensa indicam que os partidos
constitucionalistas estão à frente nas intenções de voto, mas os
independentistas ganham em número de lugares, sem nenhum dos blocos ter
maioria absoluta.O
Cidadãos (constitucionalista, direita liberal) aparece nos estudos de
opinião como o partido mais votado, na casa dos 23-25 %, seguido de
perto pela Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, independentista,
esquerda moderada) que poderia eleger mais deputados porque a lei
eleitoral dá mais peso a províncias dominadas pelos independentistas.“A
divisão entre as pessoas vai-se manter e parece-me difícil chegar a um
acordo para governar” a Catalunha, disse Francisco desanimado com a
situação.A
campanha eleitoral termina hoje à meia-noite (11:00 em Lisboa), tendo
decorrido de forma pouco convencional por parte de várias listas
eleitorais independentistas.O
cabeça de lista da ERC, o ex-vice-presidente, Oriol Junqueras, está na
prisão sem poder participar na campanha, suspeito de ter cometido crimes
de rebelião, sedição e peculato.Por
seu lado o número um da lista “Juntos pela Catalunha” (independentista,
direita liberal), o ex-presidente do governo regional, Carles
Puigdemont, fez campanha através de videoconferência a partir de
Bruxelas, onde se encontra como “refugiado político”.