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Cultura
Casa onde viveu Antero de Quental em Vila do Conde abre em Junho
A casa onde Antero de Quental viveu em Vila do Conde, durante 10 anos, foi reconstruída e recuperada e vai abrir ao público a partir do próximo mês de Junho, garantiu à Lusa, o autor do projecto de arquitectura.

Autor: Lusa/AO online

A intervenção do imóvel, situado no coração da cidade e junto ao largo que tem o nome do escritor, está a ser feita pela Câmara Municipal, num investimento que ronda os 500 mil euros. Segundo Maia Gomes, o interesse pela recuperação deste espaço surge reforçado pelo facto de Vila do Conde ser uma cidade “intimamente ligada à literatura, às artes e à pintura”, através de pessoas que “por cá passaram, viveram ou nasceram e viram este local como fonte de inspiração”. Nomes como José Régio, Ruy Belo e, mais recentemente, Valter Hugo Mae provam, segundo Maia Gomes, que “Vila do Conde é uma terra de tradição literária”. E foi com o intuito de “seguir esta política, que visa realçar as coisas importantes e potenciar os criativos locais” (onde se inclui Antero de Quental), que a edilidade decidiu adquirir e requalificar o imóvel”, explicou o arquitecto. “Vila do Conde enriqueceu-se com a sua presença e o próprio escritor também viveu aqui os momentos mais felizes da sua vida”, frisou. Recorde-se que o autor de “Odes Modernas” fez a seguinte descrição da cidade: “aqui as praias são amplas e belas, e por elas me passeio ou me estendo ao sol com a voluptuosidade que só conhecem os poetas e os lagartos adoradores da luz”. Um escrito que denota que o tempo que passou em Vila do Conde (de 1881 a 1891) terá sido, talvez, o menos atormentado da sua vida. A requalificação foi complicada, porque o imóvel teve que ser demolido e reconstruído. É que, há muitos anos, havia sido alvo de “uma intervenção que o descaracterizou e, quando a Câmara o adquiriu, quis aproximá-lo, o mais possível, ao que era à época de Antero”, disse o arquitecto à Lusa. A obra está agora em fase final de construção, faltando apenas a instalação do espólio e mobiliário. Maia Gomes considera que o espaço não é grande e até o define como tendo uma “dimensão ‘quase doméstica’, mas, e dentro desta disponibilidade física, vão ser criados espaços de exposição, um pequeno auditório e uma biblioteca a instalar na antiga torre”, um dos locais mais atractivos da casa. O acesso a essa torre, é feita através de uma escada, em espiral, que termina numa janela com vista para o núcleo antigo da cidade, uma ideia inspirada no escultor russo, Vladimir Tatlin, confidenciou Maia Gomes. A espiral tem a forma de estante e poderá representar, por exemplo, “a subida para o conhecimento”, uma vez que ali ficarão aquartelados mais de 5000 livros”, elucidou. “Existe a expectativa que tudo o que diga respeito a Antero, e que está um pouco disperso”, se possa reunir neste local”, à semelhança do que está a acontecer em Ponta Delgada, a terra natal de Antero. Mas dentro da casa, há um outro espaço que merece também ser realçado: o jardim. Aliás, Antero de Quental conta numa das cartas escritas a um amigo, que pretende libertar aquela zona da função de horta e transformá-la, colocando ali “duas laranjeiras, um pessegueiro, plumas, um morangueiros e uma ramada. O jardim está a ser ordenado tal e qual esta descrição.  As portas da casa mantêm-se para já fechadas, mas, dentro de cerca de três meses, já poderá ser visitada e sentida como um dos locais de eleição de Antero de Quental, que por aconselhamento médico viu Vila do Conde cruzar-se na sua vida.  Partiu em Maio de 1891 para os Açores e, cinco meses depois, mata-se com dois tiros.  Um destino demasiado trágico que, se calhar, poderia ter sido evitado se Antero de Quental se mantivesse em Vila do Conde.Pelo menos, as gentes locais gostam de acreditar que assim seria.