Cartas de rescisão dos tripulantes da Ryanair estão a ser devolvidas em Portugal
28 de ago. de 2020, 11:11
— Lusa/AO Online
De acordo com
várias cartas enviadas por tripulantes da Ryanair à Crewlink Portugal, a
empresa de trabalho temporário que tem como único cliente a Ryanair, a
que a Lusa teve acesso, as mesmas estão a ser devolvidas com as
indicações de "Encerrado" e "Sem recetáculo postal" assinaladas pelo
carteiro.A Lusa constatou no local que o
edifício, situado na rua Julião Quintinha, na freguesia de Benfica, em
Lisboa, aparenta estar vazio, sendo ainda visíveis resquícios de
ocupação pela GroundLink, uma empresa de operações em terra ('handling')
que também prestou serviços à Ryanair ao longo dos últimos anos, cujas
marcas do logótipo, na entrada, ainda são visíveis. Em
causa estão as rescisões por justa causa dos tripulantes da Ryanair
(funcionários da Crewlink) que rejeitaram a integração nos quadros da
companhia irlandesa com remunerações base abaixo do salário mínimo
nacional.Em caso de recusa da proposta da
Ryanair, foram dados dois a três dias aos tripulantes para escolherem
uma base da sua preferência no Reino Unido ou Irlanda para começarem a
trabalhar em 01 de setembro mas, no caso de não terem escolhido nenhuma,
a Crewlink escolheu uma com base nas suas necessidades operacionais.Na
quarta-feira, a Crewlink disse à Lusa que ofereceu aos trabalhadores
"transferências para outras bases europeias para proteger os seus
salários e continuação do emprego" estando "a fazer o melhor para manter
as pessoas empregadas, em circunstâncias onde não há posições em
Portugal".O dirigente do Sindicato
Nacional de Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) Diogo Dias disse à
Lusa, em 12 de agosto, que "todos os tripulantes" que recusaram a
proposta "estão a resolver com justa causa o contrato, depois desta
transferência que lhes está a ser oferecida", adiantando que irão
avançar "com um processo coletivo contra a empresa não só para a
reintegração na empresa Ryanair", como também serão pedidos "os créditos
laborais, como por exemplo o subsídio de Natal e o subsídio de férias".Confrontado
entretanto pela Lusa acerca da situação da devolução das cartas, o
dirigente do SNPVAC acrescentou que tem conhecimento de "todas" as
cartas enviadas para a Crewlink Portugal estarem a ser devolvidas, num
total de 17, referentes a trabalhadores das bases de Ponta Delgada e
Lisboa."Para já são 17, e agora contamos
que cerca de 30 a 50 tripulantes no Porto possam também resolver o
contrato por justa causa", afirmou o sindicalista à Lusa.Diogo
Dias acrescentou que as cartas estão a ser enviadas tanto para a
Irlanda (onde estão a ser devidamente recebidas) como para Portugal
devido a "algumas dificuldades em localizar e entregar cartas" no
passado."Em Portugal, na morada que nos é
fornecida, nunca lá vimos ninguém, não está lá ninguém, as cartas estão a
vir todas para trás", referiu, aditando que as cartas foram enviadas
para os dois sítios por uma questão de proteção laboral, "para os
próprios tripulantes poderem notificar a empresa".Diogo
Dias afirmou ainda que os trabalhadores "não sabem responder" qual é a
sua efetiva entidade empregadora: se a Ryanair, se a Crewlink Irlanda ou
a Crewlink Portugal."Nós recebemos
comunicação tanto da Ryanair, como da Crewlink. As comunicações que vêm
da Crewlink são uma cópia das comunicações da Ryanair, e aqui também se
vê que a empresa Crewlink não é, de todo, autónoma, e trabalha em função
do que a empresa Ryanair quer", disse o vogal do SNPVAC à Lusa.Em
entrevista à Lusa, o diretor de Recursos Humanos da Ryanair, Darrell
Hughes, disse na semana passada que a Crewlink não está associada à
Ryanair, sendo apenas sua fornecedora de serviços.O
sindicalista acrescentou que ao longo dos anos os trabalhadores têm
sido "notificados e recebido comunicações da empresa Ryanair, da empresa
Crewlink Irlanda e da empresa Crewlink Portugal".Acerca
da morada da empresa portuguesa, Diogo Dias afirmou que "nada foi
comunicado" acerca de uma possível mudança ou abandono de instalações.Questionada pela Lusa, a Crewlink não se pronunciou acerca da morada da empresa em Portugal.