Carta aberta a Marcelo e Costa contesta mudança da tutela de animais de companhia
28 de dez. de 2020, 11:39
— Lusa/AO Online
“Esta
transferência de competências ignora a opinião unânime de técnicos
especialistas nacionais e internacionais e coloca em risco a saúde das
populações e dos próprios animais”, refere a carta que a Lusa teve acesso.Em causa está, segundo os
subscritores, a transferência da tutela dos animais de companhia e
errantes da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) do
Ministério da Agricultura para o Instituto da Conservação da Natureza e
das Florestas (ICNF) do Ministério do Ambiente e da Ação Climática.Entre
as 44 entidades signatárias constam a Ordem dos Médicos Veterinários, a
Associação Nacional dos Médicos Veterinários dos Municípios, a
Confederação dos Agricultores de Portugal, a Confederação Nacional dos
Caçadores Portugueses, o Clube Português de Canicultura, a Faculdade de
Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, a Federação Portuguesa
de Caça, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade
do Porto e as universidades de Évora e de Trás-os-Montes e Alto Douro.A
missiva salienta que a transferência da tutela destes animais para o
Ministério do Ambiente contraria as orientações de instituições
europeias e internacionais sobre a matéria, como a Organização Mundial
da Saúde Animal e a Comissão Europeia, que encaram a “organização dos
serviços oficiais de veterinária como um fator de absoluta importância
para a gestão e o controlo de crises sanitárias”.“Segundo
a Organização Mundial da Saúde, as oito doenças que representam maior
risco para a saúde pública são doenças transmitidas dos animais para os
humanos”, alertam os subscritores, apontando o exemplo mais recente da
covid-19.De acordo com a carta enviada a
Marcelo Rebelo de Sousa e a António Costa, a alteração de tutela poderá
resultar ainda no “ressurgimento em Portugal de doenças já erradicadas,
como a raiva, que foi erradicada do país há décadas, mas que mata 60 mil
crianças por ano em todo o mundo”.“Entre
as doenças transmitidas por animais aos humanos e a outros animais que
continuam a ocorrer em Portugal, e que podem registar um aumento da sua
incidência em consequência deste desmembramento da DGAV, estão também a
equinococose, a leishmaniose, a leptospirose, a toxoplasmose, a
neosporose e a sarcocistose”, enumera a missiva.De
acordo com os subscritores do documento, separar as competências de
saúde e bem-estar animal em dois organismos autónomos, um para os
animais de companhia e outro para os animais de produção, é “desastroso
para a execução dos planos de controlo e para os sistemas de alerta de
doenças”.Apelando para que a medida seja
revista, os signatários, que incluem também várias organizações de
produtores e comerciais, defendem que o Governo deve “investir numa
autoridade veterinária nacional única, competente e robusta, com
independência técnica e dotada dos meios e recursos necessários ao
desenvolvimento da sua missão”.