Carros abandonados, lixo e lama ainda entopem estradas em Valência 48 horas após tempestade
1 de nov. de 2024, 10:39
— Margarida Pinto, da agência Lusa
Numa das
circulares de Valência, a V-31, ao final da tarde e início da noite de
terça-feira, centenas de pessoas ficaram presas dentro de carros
arrastados pelas águas quando regressavam a casa do trabalho.Já
estavam ali quando os telemóveis soaram com a mensagem da proteção
civil a avisar da tempestade e o alerta chegou tarde demais. Várias das
mais de 150 mortes já confirmadas pelas autoridades, na Comunidade
Valenciana, no leste de Espanha, ocorreram nesta estrada, que tem várias
faixas em cada sentido.Os carros e até
camiões acabaram abandonados, amontoados, empilhados uns nos outros,
misturados com ramos e vegetação que as águas arrastavam também. Dezenas
de carros assim continuavam e no mesmo local, 48 horas depois da
tempestade, na quinta-feira ao final da tarde, quando a Lusa percorreu a
V-31 no sentido inverso, em direção ao centro da cidade de Valência.As
faixas do sentido para entrar em Valência foram já totalmente limpas de
lamas, vegetação e lixo, que foi encostado na berma, e divididas a
meio, provisoriamente, para permitir a circulação nas duas direções. Do
outro lado, havia equipas e maquinaria a mover carros e a remover
escombros, mas a empreitada é de execução lenta e difícil, como acontece
nas localidades da província que foram invadidas na terça-feira à noite
por correntes de águas que lançaram os carros contra muros e casas e
fizeram pilhas de automóveis."Olha para
isto e pensa o tempo que vai demorar a limpar", disse à Lusa na
quinta-feira de manhã uma moradora de Paiporta, a cidade nos subúrbios
de Valência em que morreram pelo menos 62 das vítimas confirmadas.As
ruas de Paiporta, onde vivem cerca de 25 mil pessoas, continuam a ser
rios e pântanos de lama e os carros destruídos e empilhados estão por
todo o lado. Os moradores estavam conscientes na quinta-feira de que
tinham de ser eles próprios a lançar mãos à obra para as primeiras
tarefas de limpeza e de que tinham também de ter paciência, porque as
equipas dos serviços de emergência eram poucas para já.Dezenas
de moradores de Paiporta percorriam também a pé quilómetros de estrada
para ir comprar a água potável que há dois dias não têm e alimentos,
porque não há qualquer comércio a funcionar na cidade, por todas as
lojas e supermercados terem ficado destruídos ou terem sido saqueados.Na
quinta-feira, o presidente do governo regional da Comunidade
Valenciana, Carlos Mazón, pediu o reforço dos meios das Forças Armadas
espanholas no terreno para ajudar nas tarefas de limpeza e remoção,
atendendo à dimensão dos estragos.Ao final
do dia o Governo de Espanha anunciou o envio de mais 500 efetivos da
Unidade Militar de Emergências, especializada em resposta a situações de
catástrofe. Com este reforço, serão cerca de 1.700 os militares desta
unidade já enviados para o terreno, que se juntam a mais de 2.000
polícias nacionais e guardas civis.A V-31 é
apenas uma das mais de 120 estradas ainda com cortes 48 horas depois do
temporal no leste de Espanha, a maioria delas, na Comunidade
Valenciana, a mais afetada pelo mau tempo e onde estão confirmadas quase
todas as vítimas mortais.Segundo um
balanço oficial feito ao final do dia de quinta-feira, a maioria das
estradas afetadas são vias secundárias, mas há pelo menos duas
autoestradas ainda cortadas (A-3 e A-7).O
temporal danificou também vias de metro de superfície e de comboio,
incluindo as de alta velocidade, que ficarão sem serviço pelo menos
durante duas a três semanas, segundo o Governo espanhol.A
rede de comboios suburbanos de Valência tem uma situação "gravíssima",
com três das cinco linhas "desaparecidas" e cerca de 80 quilómetros
"completamente destruídos", disse o executivo nacional.Ainda
segundo as autoridades, centenas de milhar de pessoas estavam ainda sem
telefone, Internet e eletricidade na quinta-feira, em toda a Comunidade
Valenciana.O presidente do Governo
espanhol, Pedro Sánchez, garantiu na quinta-feira, num visita a
Valência, toda a colaboração “por terra, mar e ar” à Comunidade
Valenciana e durante o tempo necessário.Sánchez
reiterou também que teve a oportunidade de falar com a presidente da
Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e que “todos os Estados-membros
da União Europeia fizeram um esforço, oferecendo recursos para
responder o mais eficazmente possível a esta tragédia”.“Estamos gratos por esta solidariedade”, acrescentou, desconhecendo-se porém se Espanha aceitou alguma dessas ofertas de ajuda.