Carolina Ferreira: “Estar sempre a criar e inovar faz parte do nosso ADN”
#empresária
22 de out. de 2024, 11:18
— Made in Açores
Como foram os
primeiros passos da fábrica?
A empresa foi
fundada pelos meus pais. O meu pai era polícia
nos Estados Unidos, mas em todo o emigrante há sempre
vontade de voltar. Por isso, a determinada altura, ele achou que
fazia sentido regressar os Açores. Quando
voltou, retomou o negócio
do meu avô, que era um dos maiores
produtores de vinho e de aguardente da época.
Nesta altura, havia um grande mistério
em torno de uma outra bebida alcoólica,
o licor de maracujá. Mais ninguém
o sabia fazer para além
do Ezequiel, o que gerou uma grande curiosidade para o meu pai, que
sempre gostou de desafios. Por isso decidiu experimentar produzir uma
versão sua do Licor de Maracujá e fazer
uma espécie de
provas cegas. Engarrafou o seu licor e o do Ezequiel em garrafas sem
rótulo e deu-os
a provar. Como as pessoas gostaram muito do resultado, isso fez com
que ele se aventurasse para a produção de licores. Mal sabia ele na
altura que, anos depois, acabaríamos
por adquirir a marca Ezequiel. Já a temos
há cerca de vinte anos.
Como foi evoluindo a
oferta de licores ao longo destes anos?
A primeira aposta
foi naquilo que era a nossa essência, as
aguardentes, e em alargar a oferta. Começamos
a produzir aguardentes mais envelhecidas e cada vez melhores em
termos de qualidade. Hoje posso dizer que temos uma das melhores
aguardentes do país, a nossa Aguardente
Velhíssima. Partimos depois para os
licores. Para além
do de Maracujá, começamos
a produzir com outras frutas da região, como o Ananás,
a Amora, a Tangerina e a Banana. Quando começamos
a experimentar com o leite, desenvolvemos uma linha de cremes,
licores com natas, chamada Queen of the Islands. Para além
do mais tradicional, criamos outros com sabores, como o caramelo, o
cappuccino, a menta e ainda o Maracujá e o
Ananás. O ano passado, fizemos duas
edições especiais para o Natal, com os sabores de Bolacha Maria e
de Bolo de Fruta.
Que outros produtos
têm atualmente no mercado, para além
dos licores?
Atualmente, temos
imensas marcas e várias categorias de
produto para além
da Mulher do Capote, que foi a primeira. Fomos os primeiros a fazer
gin nos Açores. Lançamos
o gin Goshaw, que agora já tem uma versão
Premium, com uma forte inspiração no nosso mar. Temos ainda gins
com os nossos sabores de sempre: o Maracujá,
o Ananás, a Tangerina e a Amora. Para além
disso, somos o único produtor de rum na
região, o rum Antília.
Qual é
o vosso produto mais procurado?
Por mais voltas que
se dê, a estrela é
o Licor de Maracujá. É
o licor mais premiado de Portugal e isso deixa-me com muito orgulho,
quer como açoriana, quer como portuguesa.
Já tem seis medalhas de ouro a nível
internacional. Existe desde 1936 e mantém-se
um ex-libris da região.
Que importância
tem a inovação para o sucesso da empresa?
Muita importância.
Estou sempre a mencionar como fomos os primeiros a fazer várias
coisas. Por exemplo, num dia em que estávamos
numa reunião, estávamos
a comentar que, sendo o leite dos Açores
um dos melhores, fazia todo o sentido usá-lo
nos nossos licores. Ninguém
fazia licores creme na região, e nós
avançamos. Faz parte da nossa essência
estar sempre à procura de novas formas de
inovar e de apresentar novos produtos. É uma coisa que o nosso pai
nos transmitiu desde cedo. Recordo-me que, em criança,
ele nos dizia sempre para estarmos atentos
quando fôssemos mundo fora, para aprender com o que víamos,
o que poderíamos adaptar e fazer ainda
melhor. Todos os dias aprendemos alguma coisa, mesmo naqueles dias em
que achamos que não. Acho que não existem dias em que não se
aprende nada.
Por falar em
aprendizagem, quais são os principais desafios que a empresa tem em
mãos?
Temos alguns. Por
vezes o aumento do preço da matéria
prima ou até alguma
escassez. Como temos produtos únicos, como
é o caso do rum,
pode ser mesmo muito difícil garantir a
sua continuidade. Na Região, não
existe o mesmo apoio que existe noutras regiões ultraperiféricas
da União Europeia. Um agricultor cá não
tem as mesmas condições que um agricultor na Madeira, por exemplo.
Essa questão complica-nos os planos. E,
ainda assim, as vendas do rum têm sido
extraordinárias, é
um dos produtos que mais exportamos.
Que impacto teve o
turismo na atividade da empresa?
Para nós,
o turismo é muito
importante, porque é também
uma forma de exportar. A forma tradicional continua a ser fundamental
para nós, mas é
importante ter o turista que nos visita,
que tem a oportunidade de conhecer as nossas instalações e de
provar os licores. Depois de fazer a visita e experimentar,
normalmente levam sempre o que gostaram mais e, ao voltar a casa,
acabam por partilhá-lo com outras pessoas.
Isso é uma forma
de levar os Açores além
fronteiras.
Quais os planos para
o futuro?
O nosso futuro é
sempre crescer, com novos mercados e novos
produtos. É essa a nossa visão, ter uma oferta que vai de encontro
aos novos consumidores, que estão sempre a mudar. Temos de ir à
procura de outros mercados que não sejam só
os da saudade, e mesmo esse tem sofrido alterações
ao longo do tempo, como é natural.
E claro, nunca deixamos de querer criar coisas novas. Criamos o
hábito nos açorianos
de desenvolver novos licores todos os natais, e este não
será exceção.
Temos quatro produtos em preparação, mas ainda estão no segredo
dos deuses. Dentro de umas semanas anunciaremos as novidades.