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Carolina Ferreira: “Estar sempre a criar e inovar faz parte do nosso ADN”

A empresária segue os passos do pai, Eduardo Ferreira que, em 1993, montou a Fábrica de Licores Eduardo Ferreira & Filhos Lda, na Ribeira Grande


Autor: Made in Açores

Como foram os primeiros passos da fábrica?

A empresa foi fundada pelos meus pais. O meu pai era polícia nos Estados Unidos, mas em todo o emigrante há sempre vontade de voltar. Por isso, a determinada altura, ele achou que fazia sentido regressar os Açores. Quando voltou, retomou o negócio do meu avô, que era um dos maiores produtores de vinho e de aguardente da época. Nesta altura, havia um grande mistério em torno de uma outra bebida alcoólica, o licor de maracujá. Mais ninguém o sabia fazer para além do Ezequiel, o que gerou uma grande curiosidade para o meu pai, que sempre gostou de desafios. Por isso decidiu experimentar produzir uma versão sua do Licor de Maracujá e fazer uma espécie de provas cegas. Engarrafou o seu licor e o do Ezequiel em garrafas sem rótulo e deu-os a provar. Como as pessoas gostaram muito do resultado, isso fez com que ele se aventurasse para a produção de licores. Mal sabia ele na altura que, anos depois, acabaríamos por adquirir a marca Ezequiel. Já a temos há cerca de vinte anos.


Como foi evoluindo a oferta de licores ao longo destes anos?

A primeira aposta foi naquilo que era a nossa essência, as aguardentes, e em alargar a oferta. Começamos a produzir aguardentes mais envelhecidas e cada vez melhores em termos de qualidade. Hoje posso dizer que temos uma das melhores aguardentes do país, a nossa Aguardente Velhíssima. Partimos depois para os licores. Para além do de Maracujá, começamos a produzir com outras frutas da região, como o Ananás, a Amora, a Tangerina e a Banana. Quando começamos a experimentar com o leite, desenvolvemos uma linha de cremes, licores com natas, chamada Queen of the Islands. Para além do mais tradicional, criamos outros com sabores, como o caramelo, o cappuccino, a menta e ainda o Maracujá e o Ananás. O ano passado, fizemos duas edições especiais para o Natal, com os sabores de Bolacha Maria e de Bolo de Fruta.


Que outros produtos têm atualmente no mercado, para além dos licores?

Atualmente, temos imensas marcas e várias categorias de produto para além da Mulher do Capote, que foi a primeira. Fomos os primeiros a fazer gin nos Açores. Lançamos o gin Goshaw, que agora já tem uma versão Premium, com uma forte inspiração no nosso mar. Temos ainda gins com os nossos sabores de sempre: o Maracujá, o Ananás, a Tangerina e a Amora. Para além disso, somos o único produtor de rum na região, o rum Antília.


Qual é o vosso produto mais procurado?

Por mais voltas que se dê, a estrela é o Licor de Maracujá. É o licor mais premiado de Portugal e isso deixa-me com muito orgulho, quer como açoriana, quer como portuguesa. Já tem seis medalhas de ouro a nível internacional. Existe desde 1936 e mantém-se um ex-libris da região.


Que importância tem a inovação para o sucesso da empresa?

Muita importância. Estou sempre a mencionar como fomos os primeiros a fazer várias coisas. Por exemplo, num dia em que estávamos numa reunião, estávamos a comentar que, sendo o leite dos Açores um dos melhores, fazia todo o sentido usá-lo nos nossos licores. Ninguém fazia licores creme na região, e nós avançamos. Faz parte da nossa essência estar sempre à procura de novas formas de inovar e de apresentar novos produtos. É uma coisa que o nosso pai nos transmitiu desde cedo. Recordo-me que, em criança, ele nos dizia sempre para estarmos atentos quando fôssemos mundo fora, para aprender com o que víamos, o que poderíamos adaptar e fazer ainda melhor. Todos os dias aprendemos alguma coisa, mesmo naqueles dias em que achamos que não. Acho que não existem dias em que não se aprende nada.


Por falar em aprendizagem, quais são os principais desafios que a empresa tem em mãos?

Temos alguns. Por vezes o aumento do preço da matéria prima ou até alguma escassez. Como temos produtos únicos, como é o caso do rum, pode ser mesmo muito difícil garantir a sua continuidade. Na Região, não existe o mesmo apoio que existe noutras regiões ultraperiféricas da União Europeia. Um agricultor cá não tem as mesmas condições que um agricultor na Madeira, por exemplo. Essa questão complica-nos os planos. E, ainda assim, as vendas do rum têm sido extraordinárias, é um dos produtos que mais exportamos.


Que impacto teve o turismo na atividade da empresa?

Para nós, o turismo é muito importante, porque é também uma forma de exportar. A forma tradicional continua a ser fundamental para nós, mas é importante ter o turista que nos visita, que tem a oportunidade de conhecer as nossas instalações e de provar os licores. Depois de fazer a visita e experimentar, normalmente levam sempre o que gostaram mais e, ao voltar a casa, acabam por partilhá-lo com outras pessoas. Isso é uma forma de levar os Açores além fronteiras.


Quais os planos para o futuro?

O nosso futuro é sempre crescer, com novos mercados e novos produtos. É essa a nossa visão, ter uma oferta que vai de encontro aos novos consumidores, que estão sempre a mudar. Temos de ir à procura de outros mercados que não sejam só os da saudade, e mesmo esse tem sofrido alterações ao longo do tempo, como é natural. E claro, nunca deixamos de querer criar coisas novas. Criamos o hábito nos açorianos de desenvolver novos licores todos os natais, e este não será exceção. Temos quatro produtos em preparação, mas ainda estão no segredo dos deuses. Dentro de umas semanas anunciaremos as novidades.