Cáritas quer no “sapatinho” dos portugueses sinal de que medidas são de equidade social

14 de nov. de 2010, 21:47 — Lusa

“O que eu desejava neste momento que se pusesse no sapatinho dos portugueses era um sinal de que todas as medidas que estão a ser tomadas são de equidade social, que vão atingir todos e não vão apenas recair com maior agressividade sobre aqueles que já são no dia a dia penalizados”, disse Eugénio Fonseca. No final do Conselho Geral da Cáritas Portuguesa, que terminou em Fátima, o dirigente acrescentou que gostava que os portugueses “tivessem uma mensagem de verdade a dizer que aqueles que estão a auferir chorudos salários que vão repartir, que aqueles que estão a auferir mais que uma reforma que vão dispensar” esse direito que a lei lhes permite. Eugénio Fonseca pede ainda, embora assumindo que esta solicitação não é realista, que “todos os portugueses tivessem acesso ao trabalho”. “Eu sei que nem tão cedo se vão recuperar postos de trabalho e até receio muito que alguns dos portugueses e portuguesas que ficaram desempregadas não voltem a ter trabalho”, desabafou, convencido de que atualmente mais de 18 por cento da população vive em situação de pobreza. Para o responsável, o país já está “muito mais que nessa cifra”. “Se compararmos com as taxas de desemprego – e tendo nós a certeza de que muitos dos desempregados caem automaticamente em situação de privação de recursos – estes números são muito mais significativos”, observou, sustentando que o combate ao défice “não pode justificar tudo”. Eugénio Fonseca sublinhou que na “luta por vencer o défice” há que salvaguardar a “dignidade” das pessoas que devem ter “o mínimo de condições para subsistirem”. Por isso, “mesmo que não se atinjam os valores, as metas para a recuperação do tal défice, que não se deixe de cumprir obrigações que têm a ver com direitos elementares das pessoas”, afirmou, considerando que esta tarefa pode fazer-se na redução que o Governo anunciou e que a Cáritas elogia “na reorganização até do próprio aparelho do Estado”. O presidente da Cáritas estranha, contudo, que os cortes estejam a ser feitos “em áreas tão estruturais”, como a educação, a saúde e a ação social. “É aí que se pode cortar mais porque a fatia é maior, mas é aí que se fragiliza mais a sociedade portuguesa”, alertou Eugénio Fonseca, advertindo que, face aos dados das Cáritas Diocesanas revelados no Conselho Geral da instituição, “há já duas consequências que se estão a notar muito como reverso deste problema de austeridade”: o aumento dos divórcios e da violência doméstica.