Autor: Lusa/AO online
“Esta ilha tem uma história geológica muito interessante. Durante meio milhão de anos existiram duas ilhas, que só se uniram há 40 mil anos, quando apareceu o lugar onde está hoje Ponta Delgada”, afirmou o investigador António Frias Martins.
“A história geológica também é escrita pelos seres vivos que habitam a ilha e os caracóis são um bom modelo porque são relativamente sedentários”, acrescentou.
António Frias Martins, do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, lidera um projecto de investigação sobre a evolução dos moluscos terrestres nos Açores.
A Lusa acompanhou uma das saídas de campo da equipa deste investigador, especializado em sistemas e evolução nos moluscos, que decorreu no município do Nordeste, num dos extremos da ilha de S. Miguel.
Em encostas íngremes, com vegetação densa, os elementos da equipa, que incluía um investigador inglês da Universidade do Porto, remexeram a terra com as mãos, num esforço para encontrar vestígios do animal procurado.
Os dois primeiros locais revelaram-se infrutíferos, o que dá razão a Frias Martins quando diz que “o caracol não vive em qualquer lado”, mas, no terceiro local, o investigador encontrou, não um, mas dois exemplares.
O centro das atenções neste trabalho de paciência é um pequeno caracol, denominado Drouetia, que pode ter sido a origem de todas as espécies de caracóis de um determinado grupo que existe nesta ilha açoriana.
“Viemos aqui para a parte mais antiga da ilha para procurar estes caracóis, que provavelmente terão estado no início das três ou quatro espécies de caracóis deste grupo actualmente existentes em S. Miguel”, frisou.
O primeiro caracol endémico foi encontrado nos Açores em 1845.
Os estudos já realizados permitiram “ver as duas ilhas (que derem origem a S. Miguel) na anatomia” dos caracóis, o que reforça a ideia da sua importância no estudo da história geológica.
“Há formas (na anatomia dos caracóis) que só se encontram na zona das Sete Cidades e formas que só se encontram na zona do Nordeste”, revelou o investigador, referindo-se a duas áreas situadas nos extremos da ilha de S. Miguel.
Na perspectiva de Frias Martins, os Açores possuem uma mais-valia em termos de investigação científica que resulta de ser um arquipélago afastado das zonas continentais, com ilhas de idades diferentes e também elas afastadas entre si.
“O que interessa é manter este laboratório natural, que é algo que os outros não têm”, defendeu o investigador.